São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Empresário diz que novo imposto é inflacionário

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários e sindicalistas ouvidos ontem pela Folha foram unânimes nas críticas à aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) pelo Congresso Nacional.
Uma das principais ressalvas é que o governo subestima o impacto que a contribuição terá sobre a inflação. Para alguns, o novo imposto também contribuiria para aumentar o desemprego. Leia abaixo repercussão sobre a taxa:

Abram Szajman, presidente da FCESP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) - "A criação desse imposto distorce a necessidade de uma legislação fiscal forte e coerente. Ele será repassado ao consumidor com prejuízo para toda a linha produtiva, porque é aplicado em cascata. Produtos na área têxtil ou no setor de alimentos poderão ter aumentos de preços que cheguem a até 4% no final da linha produtiva. Espero que os deputados que aprovaram o imposto criem uma legislação tributária que realmente beneficie o país".

Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) - "Aprovar um imposto como esse no momento em que o país se prepara para votar uma reforma tributária é um grave erro. Esse imposto vai onerar o setor produtivo e o próprio governo. Teremos reflexos nas taxas de juros e na inflação. Foi um erro do governo e do Congresso. Como somos democratas, vamos acatar essa decisão, embora seja equivocada".

Fernando Bezerra, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) - "A CPMF contraria a tendência mundial da globalização dos mercados, porque vai afetar diretamente os produtos de exportação. Seremos o único país no mundo a exportar um imposto, o que é um absurdo. O governo está desprezando os efeitos desse imposto num mercado crescente, no qual as indústrias deveriam ser estimuladas. O imposto compromete as condições das indústrias de gerar e preservar empregos".

Juarez Rizzieri, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) - "A CPMF eleva justamente as duas coisas que o governo deveria se preocupar em abaixar, se quer manter um bom plano de estabilização: a inflação e as taxas de juros. Além disso, não há nenhuma garantia de que o dinheiro beneficiará os doentes. Acho que o ministro Adib Jatene deve à população uma correta aplicação dos recursos já existentes."

Alfredo Neves de Moraes, diretor da Febraban - "Todo mundo ficou perplexo com esse imposto. Acho muito difícil que ele arrecade o quanto o governo espera, porque ele vai gerar uma fuga dos bancos, e a projeção da arrecadação foi feita sobre as aplicações que são feitas atualmente. Foi divulgado que ele geraria R$ 4,8 bilhões em um ano, mas duvido que chegue a R$ 3 bilhões. Essa cobrança vai gerar menos transações bancárias, o que significa menos agências, menos gente trabalhando, menos tudo. Os economistas do governo avaliam que o efeito inflacionário será pequeno. Eles estão enganados".

João Vaccari Neto, secretário-geral da CUT - "Não podemos criar um imposto para cada questão social emergente. Os impostos que nós já pagamos vão para aonde?"
Paulo Pereira da Silvapresidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo - "É um absurdo. Deveriam centrar fogo na reforma fiscal e tributária e não criar outro imposto. Ninguém aguenta mais imposto. Além do mais, não se tem certeza de que o dinheiro vai chegar na saúde. Ele vai acabar entrando no moinho da corrupção."

Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo - "Sou contra. É burro porque vai gerar mais pressão sobre a política monetária."

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