São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Proposta visa privatizar polícia, diz OAB

DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de complementar o salário de policiais e reformar veículos, apresentada por moradores dos Jardins, é vista pela OAB como "tentativa de privatizar a polícia".
"A proposta é imoral e ilegal", disse Jairo Fonseca, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil.
Ele afirmou que o artigo 144 da Constituição coloca a segurança pública como responsabilidade do Estado e que o poder de polícia não pode ser delegado a outra esfera da sociedade.
Na prática, acredita, pagar o extra a um PM significa assumir parte do comando sobre ele. "Quem paga o salário manda", raciocina.
Para Fonseca, o policial ficaria inibido ao dar um eventual flagrante por porte de droga no filho de alguém que contribuísse diretamente para seu salário.
"A proposta é absurda", disse. "É um retrocesso em termos de segurança pública e sinaliza uma volta às milícias privadas do tempo medieval."
Aumento da desigualdade
A psicóloga social Nancy Cardia, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), também disse que a idéia dos moradores do Jardins implica privatização de um serviço público.
"Se colocada em prática, ela só vai dar a ilusão de segurança aos que têm mais dinheiro", afirmou.
Em sua opinião, qualquer paulistano só terá segurança de fato se os moradores da periferia da cidade tiverem segurança.
"Quem mora em uma área de alta criminalidade como o Parque Santo Antônio (zona sul) não esquece a violência ao passar em um bairro bem policiado", explica.
A proposta dos moradores dos Jardins quer aumentar uma desigualdade que hoje já existe, segundo a pesquisadora.
Os moradores das regiões centrais, disse, já têm maior poder de pressão sobre autoridades, têm delegacias mais bem aparelhadas e há mais policiais na área que na periferia.

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