São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Educação precisa de verba privada, diz filósofo

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O filósofo José Arthur Giannotti, membro do Conselho Nacional de Educação, atacou ontem em São Paulo o que considera "visões utópicas" sobre a universidade e a educação no Brasil.
Em sua exposição, Giannotti disse que os investimentos públicos na educação chegaram ao seu limite. Segundo ele, dos R$ 24 bilhões investidos no setor pela União, Estados e municípios, R$ 5,6 bilhões são consumidos só pelas universidades federais.
Giannotti, que é presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), participou de uma mesa-redonda sobre "Diretrizes da Educação Brasileira", dentro da 48ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Cerca de 300 pessoas assistiram ao debate, realizado no teatro da PUC, o Tuca.
Participaram também da mesa as professoras Leonor Tauri, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Vera Brito, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a mediação de Carlos Roberto Jamil Cury, professor da UFMG.
Para Giannotti, a universidade precisa da autonomia de pensar livremente, mas deve cumprir um papel social para justificar o mandato que lhe é concedido pela sociedade.
Segundo o filósofo, tornou-se inviável, a curto prazo, a idéia de construir um sistema público de educação nacional. "Temos de conviver com o sistema capitalista, com o financiamento público e privado da escola pública, com a expansão das escolas privadas."
Giannotti discordou de Leonor Tanuri quando esta afirmou que a "indissociabilidade de ensino e pesquisa" deve ser um requisito para que uma escola mantenha o estatuto de universidade.
"O Brasil tem 137 universidades. Só umas nove ou dez praticam de fato ensino e pesquisa", disse Giannotti. "Imagine se a Universidade do Acre for descredenciada. O Acre inteiro invade Brasília."
Leonor Tanuri e Vera Brito criticaram o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação proposto pelo senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) e aprovado no Senado.
Segundo as professoras, o projeto, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, atropelou um projeto originado na própria Câmara a partir de discussões amplas com todos os segmentos do setor educacional desde o Congresso Constituinte de 1988.
Giannotti mostrou-se mais favorável ao projeto de Darcy Ribeiro, que prevê a existência de escolas superiores voltadas para a formação profissional. "Vivemos numa sociedade de assalariados, em que a maioria dos cidadãos só existe em função de seu emprego", disse.
Segundo ele, o projeto surgido na Câmara, no seu longo processo de elaboração, sofreu "a sedimentação de interesses corporativos".

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