São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Especialista se impõe rotina de monja

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A austeridade da rotina que ela se impôs nas últimas semanas é quebrada apenas pela presença constante de Leon, o toy poodle branco de estimação.
No mais, embora acompanhada também de seu marido e assistente, como autêntica monja a restauradora paulista Nilva Calixto trabalha, come e dorme no interior do Mosteiro de São Bento em São Paulo -"ora et labora", conforme a divisa beneditina.
Situações excepcionais de trabalho não são novidade para a especialista. Em 1987, chefiando a restauração da ala nobre do Teatro Municipal de São Paulo, armou-se de coragem, cotonetes e químicas e equilibrou-se em andaimes instalados a mais de 20 metros de altura para restaurar as pinturas da abóbada da sala de concertos.
Em 90, tornou-se a primeira mulher a ter permissão para circular na clausura masculina do mosteiro beneditino paulistano. Em 91, passou meses literalmente envolvida em gigantescas telas de Frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), quando as então arruinadas obras pertencentes à Candelária de Itu (SP) tiveram de ser pregadas às paredes de seu apartamento em São Paulo.
Frei agostinho de Jesus Entre as mais importantes restaurações atuais estão as duas maiores estátuas dentre as 21 imagens conhecidas do primeiro artista de arte sacra brasileiro, o carioca Frei Agostinho de Jesus, O.S.B., cujo pico de atividade deu-se em 1650, em Santana do Paranaíba (SP), um século antes do festejado barroco mineiro e de Aleijadinho.
Limpando as estátuas de barro ressequido de São Bento e Santa Escolástica pertencentes às laterais do altar-mor da Basílica beneditina, a restauradora notou "janelas" com decapagem espontânea, revelando a camada pictórica original: florões mais elaborados que as rosáceas pintadas nos anos 20.
"Devido à boa espessura dessa capa, decidiu-se por uma minuciosa retirada, ficando à mostra a policromia original", diz Calixto.
Desde 1993, estressada pela mesma poluição ambiental que combate em seu trabalho, a restauradora mantém estúdio em Águas de Santa Bárbara, a 300 km da capital paulista.
(AM)

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