São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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EUA cancelam visto de Ernesto Samper

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O governo dos EUA cancelou ontem o visto de entrada no país do presidente da Colômbia, Ernesto Samper, e o acusou de colaborar com o narcotráfico.
A decisão foi tomada pelo presidente Bill Clinton. "Samper não é bem-vindo nos EUA, como todas as pessoas que conscientemente ajudam traficantes de drogas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Nicholas Burns.
A chancelaria colombiana classificou a decisão de "inaceitável, unilateral e intervencionista" e disse que Samper irá a Nova York em setembro para denunciá-la à Assembléia Geral das Nações Unidas. Os EUA expedem vistos especiais, limitados à área próxima à sede da ONU, para participantes das reuniões da entidade proibidos de entrar no país.
A única punição similar à de Samper ocorreu em 1987, quando Ronald Reagan proibiu a entrada nos Estados Unidos do presidente Kurt Waldheim, da Áustria, ao se confirmar que ele havia servido no Exército da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
Samper, acusado de ter recebido US$ 3 milhões do cartel de Cali durante a campanha presidencial de 1994, disse que "não importa que a Colômbia carregue o estigma de um problema que não é só dela" e que "nós, colombianos, temos de manter a cabeça alta".
O embaixador dos EUA em Bogotá, Myles Frechette (que foi cônsul geral em São Paulo na década de 80) informou o ministro demissionário das Relações Exteriores da Colômbia, Rodrigo Pardo, da decisão de Clinton.
"Por enquanto", disse o Departamento de Estado, os EUA não vão aplicar sanções comerciais contra a Colômbia. Frechette defendia o cancelamento do visto de Samper e de outras autoridades, além das sanções comerciais.
No Departamento de Estado, havia forte divergência sobre essas punições. Em março, apesar da oposição do Departamento de Estado, Clinton já havia decidido declarar que a Colômbia não coopera com o combate ao tráfico de drogas, o que implicou a suspensão de toda a ajuda financeira dos Estados Unidos àquele país.
Samper foi absolvido pela Câmara dos Deputados do seu país das acusações de financiamento ilegal da campanha eleitoral.
O governo Clinton contava com o impeachment de Samper para não ter de punir a Colômbia.
Em ano eleitoral, Clinton quer passar para a opinião pública a impressão de que é duro com o tráfico de drogas, em especial porque, durante seu governo, o consumo de drogas aumentou nos EUA pela primeira vez em duas décadas.
Na Colômbia, a cotação do peso diante do dólar caiu depois que foi noticiado o cancelamento do visto do presidente Samper.
O líder da oposição colombiana, Jaime Arias, foi econômico em seus comentários: disse apenas que a decisão de Clinton mostra "como estão ruins" as relações de seu país com os EUA.

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