São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Globalização acentua contraste

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O mundo globalizado produz fenômenos inéditos tanto no bom como no mau sentido, diz o relatório: "Nos últimos 15 anos, o mundo viu espetaculares avanços econômicos para alguns países e declínio sem precedentes para outros".
Continua: "Os avanços frequentemente são em taxas que excedem qualquer coisa vista desde o início da revolução industrial dois séculos atrás".
Mas "os declínios também são sem precedentes, excedendo em duração e, em alguns casos, em profundidade, os que ocorreram na Grande Depressão dos anos 30 nos países industrializados".
O relatório põe números concretos nessas perdas e ganhos.
No lado positivo, houve, desde 80, "dramática expansão do crescimento econômico em cerca de 15 países, trazendo rápidas elevações de renda para muitos de seus 1,5 bilhão de habitantes, mais de um quarto da população mundial".
No lado negativo, no mesmo período, o declínio econômico ou a estagnação afetou cem países, reduzindo a renda de 1,6 bilhão de pessoas, também cerca de um quarto da população do planeta.
Foi nesses 15 anos que se intensificou a globalização econômica, hoje tema recorrente de análises entusiasmadas ou assustadas, conforme o ponto de vista.
Pobres perdem
Um jogo de soma zero, portanto? Não. Perderam mais os países mais pobres e, dentro deles, a fatia pobre de suas populações.
A ponto de a diferença de renda média entre países ricos e países em desenvolvimento ter triplicado, embora em um prazo mais longo (1960 a 1993): em 1993, a brecha era de US$ 15.400, contra US$ 5.700 em 1960.
Os 20% mais pobres do mundo ficavam, em 1993, com apenas 1,4% do total da renda do planeta, uma queda de 0,9 ponto percentual em relação a 1960. Os 20% mais ricos viram sua fatia saltar, no mesmo período, de 70% para 85% da riqueza mundial.
O relatório não toma posição a respeito das vantagens e desvantagens da globalização, limitando-se a apresentar os números.
Entre 1965 e 1990, o comércio mundial de mercadorias e serviços aumentou 14 vezes, e "os fluxos financeiros alcançaram dimensões inimagináveis", a ponto "de mais de US$ 1 trilhão rodar o mundo a cada 24 horas, buscando sem descanso o mais alto retorno".
Queimar etapas
Cita a Índia, que, em dez anos, expandiu sua indústria de softwares (programas de computador), a ponto de se tornar o segundo maior exportador desse item.
Mas dá também exemplos de como a abertura e as privatizações, geralmente associadas à globalização, são capazes de produzir aumento das disparidades internas.
O caso mais notório é o do Chile, primeiro país latino-americano a adotar a liberalização. O coeficiente Gini para distribuição de renda era de 0,45 em 1970. E, 20 anos depois, saltou para 0,57 -piora de 27% (quanto mais perto de 1, mais desigual o país).
(CR)

Texto Anterior: Desenvolvimento humano
Próximo Texto: Brasil tem desempenho medíocre
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.