São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996 |
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Brasil tem desempenho medíocre
CLÓVIS ROSSI
Considerados apenas os indicadores de saúde e educação, o Brasil teve um desempenho inferior à média mundial entre 1960 e 1992. Nos 32 anos, o mundo melhorou pouco mais de 40% seu desenvolvimento humano. A evolução do índice brasileiro foi menor: 38%. Nesse mesmo período, o Brasil foi, entre os países latino-americanos e do Caribe, um dos dois que mais cresceu economicamente, só superado pela pequena Barbados. Entretanto, esse crescimento não se traduziu em melhoria para a população como um todo: o país continua sendo o campeão mundial de concentração de renda. Os 20% mais ricos detêm uma renda 32,1 vezes maior do que a dos 20% mais pobres. Essa é a realidade desenhada pelo Relatório sobre Desenvolvimento Humano-1995 (com base em dados até 1993), divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Essa agência da ONU criou, em 1990, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que classifica os países segundo uma escala que combina esperança de vida, educação e poder de compra básico. Ou seja, acrescenta a um dado puramente econômico (o poder de compra) elementos sociais, como esperança de vida, reflexo do estado geral de saúde de uma população, e nível educacional (medido pelas taxas de matrícula do 1º ao 3º graus). No relatório 1995, o Brasil fica com um índice de 0,796 (sendo 1 o ideal de desenvolvimento humano que país algum alcança). No relatório 1994, a posição era ligeiramente melhor (0,804). Pelo lado positivo, o Brasil está ganhando posições no índice, tendo pulado do 68º posto, no ano anterior, para 58º agora. Esse evolução reflete, na verdade, a situação do Brasil em 1993 -data dos dados usados no relatório. O Brasil é o primeiro colocado entre os países com índice médio de desenvolvimento humano. O primeiro colocado de todo o ranking é o Canadá, com um IDH de 0,951. O país latino-americano que está em melhor posição é a Argentina. Com IDH de 0,885, alcançou a 30ª colocação. Ineficiência Como diz documentação dos técnicos do PNUD que mergulharam nos dados sobre América Latina e Caribe, "os países de menor eficiência em transformar sua renda em desenvolvimento humano são Brasil, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Bolívia, Guatemala e Haiti". Todos os companheiros do Brasil nessa lista são infinitamente mais pobres e, exceto a Bolívia, enfrentaram problemas de guerra interna até recentemente. Prova do que diz o relatório é que o Brasil foi um dos quatro que menos reduziu seu déficit em desenvolvimento humano, à frente apenas dos países mais pobres e problemáticos da região, como o são Guatemala, Haiti e Paraguai. Real não foi medido O Plano Real, segundo estudos feitos com dados mais recentes que os da ONU, teve efeitos de distribuição de renda. Mas eles são insuficientes para alterar significativamente a situação do Brasil no ranking mundial. Para comparação: no Canadá, a diferença entre as faixas mais rica e mais pobre da população é de apenas 7,1 vezes -contra 32,1 vezes no Brasil. Mesmo na Etiópia, o país de pior colocação entre os que dispõem de dados sobre distribuição de renda (168º lugar no IDH), os 20% mais ricos ganham apenas 4,8 vezes mais do que os 20% mais pobres. Texto Anterior: Globalização acentua contraste Próximo Texto: Igualdade é 'utopia parcial', diz FHC Índice |
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