São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
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Situação fica calma após enterro em Londonderry

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O clima na Irlanda do Norte, explosivo na última semana, acalmou ontem após o enterro do único morto durante os combates nas principais cidades da Província.
Não houve conflitos durante o cortejo fúnebre de Dermot McShane, 35, um militante do Inla (Exército de Liberação Nacional Irlandês) que morreu após ser atropelado por um carro do Exército no sábado em Londonderry.
McShare passara quatro anos e meio preso, nos anos 80, devido a envolvimento com o Inla, uma dissidência radical do IRA.
Sua morte provocou os maiores protestos em 20 anos em Londonderry, na noite de sábado.
Enterro
Um atentado a bomba contra um hotel em Enniskillen, no sul da Província, está sendo associado à morte de McShane -uma vez que o IRA já negou sua autoria.
Ontem, cerca de 5.000 pessoas foram ao enterro, entre elas o chefe negociador do Sinn Fein, partido ligado ao IRA, Martin McGuinness. John Hume, líder do católico moderado SDLP (Partido Social-Democrata Trabalhista), também participou da cerimônia.
McShare foi enterrado como herói republicano, com uma bandeira com as cores da Irlanda (laranja, verde e branco) em seu caixão.
Os conflitos da semana passada, classificados como os mais graves em uma década, deixaram 192 civis e 149 policiais feridos.
Foram disparadas 6.002 balas de plástico contra manifestantes, contra número semelhante de coquetéis molotov jogados por grupos protestantes e católicos.
Ocorreram 1.300 ataques contra a RUC (polícia), que por sua vez prendeu 291 pessoas.
Problema
Os conflitos criaram mais um problema para o já cambaleante processo de paz na Irlanda do Norte, que em tese está sendo discutido em uma assembléia com políticos de todos os lados -em tese, mesmo porque o Sinn Fein está excluído até que o IRA renove seu cessar-fogo.
O fato é que os choques serviram para colocar em linha de colisão a República da Irlanda e o Reino Unido, até então co-patrocinadores das negociações.
O premiê irlandês, John Bruton, condenou repetidamente a polícia controlada por Londres por ter permitido que protestantes marchassem em áreas católicas -estopim dos distúrbios durante o fim-de-semana.
Londres alega que, se não fosse assim, haveria mais violência protestante -cujos grupos mais radicais já atacavam a polícia desde a segunda-feira retrasada.
Ontem, o secretário sir Patrick Mayhew (Irlanda do Norte) deixou clara a insatisfação britânica em discurso no Parlamento. "Achamos que as críticas às nossas ações estão sendo exageradas".
Segundo a Folha apurou junto ao maior partido da Província, o Unionista do Ulster, um eventual choque Dublin-Londres enterra de vez as chances de paz na região na visão dos protestantes.
(IG)

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