São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Itamar deixa embaixada 'atirando'

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O ex-presidente Itamar Franco encerra a sua missão como embaixador em Portugal com um tiroteio, embora elegante e discreto, contra o Itamaraty e, por elevação, contra FHC.
Itamar fez questão de divulgar ontem, horas antes da chegada de FHC, nota oficial em defesa de "seu grande amigo, eminente homem de Estado e expressão da inteligência política brasileira, o embaixador José Aparecido de Oliveira".
Itamar diz que José Aparecido é "o grande ausente" da reunião de hoje em que se formalizará a criação da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Parece mera ação entre amigos, mas tem antecedentes que lhe dão o caráter de tiroteio contra o Itamaraty e, por extensão, contra o chefe da diplomacia brasileira, o presidente FHC.
Na chegada a Lisboa, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que Itamar não se queixara do afastamento de José Aparecido da CPLP.
Os dois vieram juntos do aeroporto ao Hotel Ritz Intercontinental, onde FHC se hospeda, na suíte 833. A pedido dos fotógrafos, cumprimentaram-se e se abraçaram no lobby do hotel.
"O presidente e meu amigo Itamar Franco não se queixou coisa nenhuma. Eu também gostaria de estar aqui com o embaixador José Aparecido, meu amigo há 30 anos", limitou-se a dizer FHC. A chegada ao hotel foi às 23h42 (19h42 em Brasília).
José Aparecido foi o principal negociador da CPLP desde que foi nomeado (por Itamar) para a embaixada em Lisboa. Queria ser o seu secretário-executivo, um cargo rotativo de dois anos, prorrogáveis por mais dois.
O Itamaraty fez uma manobra para evitar que Aparecido ganhasse o lugar: sugeriu que o primeiro secretário-executivo fosse escolhido de acordo com a ordem alfabética dos membros.
Por esse critério, caberia a Angola indicar o secretário, que acabou sendo o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco. Para o chanceler Luiz Felipe Lampreia, alvo oculto, mas óbvio da nota de Itamar, o critério de escolha pautou-se pela "forte aspiração" dos países africanos (5 dos 7 membros da CPLP) de ficar com a secretaria-executiva.
A nota de Itamar é uma espécie de despedida do cargo. O seu substituto, Jorge Bornhausen, presidente nacional do PFL, assume no fim do mês. Funciona também como retomada da atividade política, de olho no Brasil. Ontem, recebeu convite formal para voltar ao PMDB.

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