São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Modelo nocivo à saúde

CARLOS FREDERICO DANTAS ANJOS

Partindo da análise de que os problemas de saúde no município de São Paulo decorrem da falência do modelo SUS, gerenciamento, corporativismo e baixa produção, o PAS -cooperativas de caráter privado- parte de uma visão equivocada de que só o setor privado é capaz de assegurar assistência médica de qualidade.
Mais uma vez vemos o favorecimento de grupos privados com recursos públicos, por meio da transferência de pessoal, instalações físicas e equipamentos a um gestor privado, substituindo a responsabilidade do poder público. Os decretos da prefeitura que transferem arbitrariamente médicos da Secretaria da Saúde que não aderiram ao PAS para outras secretarias cristalizam o desmonte e a desestruturação da rede.
Assim o PAS mostra um dos seus aspectos mais nocivos, a transferência de responsabilidades. São cada vez maiores as transferências de doentes dos hospitais do PAS para unidades do Estado, configurando o que era previsto: pacientes crônicos, graves e caros dificilmente serão assumidos pelo PAS.
Ao assumir o atendimento no município, as cooperativas do PAS deveriam assumir a integralidade do atendimento e não apenas o mais simples, ambulatorial e mais rentável. Sua responsabilidade na qualidade e integralidade do atendimento já vai se mostrando inviável financeiramente, a não ser que sustentados com recursos públicos. O SUS, ainda que com problemas, assegura o direito à saúde para todos por meio do acesso universal, garantia de assistência integral na promoção e recuperação da saúde, independentemente de cadastramento e patologias.
Seu desafio hoje passa por buscar soluções para três grandes problemas: financeiro, gerencial e de recursos humanos. Enquanto na maioria dos países desenvolvidos é cada vez maior o investimento público em saúde, no Brasil a relação é inversa. Gasta-se pouco e mal, associado à falta de agilidade e autonomia gerencial.
Outro aspecto é a falta de política de pessoal, de remuneração do médico. Num patamar de remuneração aviltante e sem perspectiva de ascensão, seu compromisso e adesão foram se distanciando do SUS, apesar de ele ainda ser o principal empregador de médicos.
Superar com vontade política e rapidez administrativa essas questões é fundamental para resgatar o modelo SUS, sem o qual ficaremos sujeitos a propostas mirabolantes, privatizantes e que não garantem à população o atendimento integral que lhe é de direito, e que o modelo PAS não assegurará.

Texto Anterior: Gapa quer que Estado dê novo remédio
Próximo Texto: Fogo atinge vegetação de parque na Canastra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.