São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Banal é mágico em 'O Balão'

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O que acontece em "O Balão Branco"? A resposta, ao menos em um primeiro momento, poderia ser nada.
Há, de início, um estranhamento com o trabalho do diretor iraniano Jafar Panahi, que prefere, assim como o grande mestre do cinema de seu país, Abbas Kiarostami (roteirista do filme), a história da vida comum.
Na véspera do ano-novo iraniano, no dia 21 de março, uma família se prepara para as festividades. E, como a tradição manda, é necessária a presença de um peixe dourado para ornar as comemorações.
Esse é, enfim, o caso que Panahi nos apresenta. Uma menina de sete anos se apaixona por um peixe que vê no mercado e consegue, com sua mãe, o dinheiro para comprá-lo. Mas, até conseguir o que deseja, sofrerá golpes do acaso.
Como alguns diretores do grande cinema japonês que precedeu a nouvelle vague dos anos 60, Yasujiro Ozu e Mikio Naruse, os cineastas do Irã parecem dar as costas aos grandes casos.
E, até mesmo quando esses imensos acontecimentos se dão, seus diretores -pelas mostras tidas até aqui- preferem voltar a câmera em direção ao caso simples, ao cotidiano visto não de forma banal, mas dotado de poder.
"O Balão Branco", vencedor do Prêmio da Crítica Internacional do festival de Cannes, não procura colocar no lugar do fato a grande metáfora.
Não estabelece com o espectador um jogo de adivinhações sobre "o que significa" essa história. Não há segredos ou armadilhas; o que existe, sob o olhar de Jafar Panahi, é apenas o impulso da vida rotineira. Algo que implica, ao menos formalmente (na maneira com que cada cena é trabalhada), na idéia de contenção.
O que permanece desse tratado da vida comum é a aceitação de uma certa felicidade e melancolia que, nos mostra "O Balão Branco", estão permanentemente juntas nos triviais acontecimentos de um dia.

Vídeo: "O Balão Branco" (Irã, 1995)
Direção: Jafar Panahi
Elenco: Aida Mohammad Khani, Mohsen Kalifi
Distribuição: United Films (011/218-1242)

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