São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Ano 2000: qual será o tamanho do problema?

BILL GATES

Pergunta - É verdade que a comunidade informatizada mundial terá uma grande dor de cabeça quando chegarmos ao dia 31 de dezembro de 1999? A Microsoft está cuidando desse problema? Como? Não posso deixar de me indagar como essa situação pode ter passado despercebida de tantos programadores e executivos de empresas. Steve Hasday, Hong Kong (75767.2125@compuserve.com)
Resposta - É verdade que vai ser uma dor de cabeça, mas ainda não se sabe quão grande. Uma companhia que presta serviços computadorizados vem exortando os governos a começarem a gastar dinheiro já para evitarem "uma catástrofe de proporções mundiais".
Talvez isso seja um exagero, mas é verdade que a partir do ano 2000 alguns programas que comparam datas começarão a cometer erros.
Os erros podem aparecer no comportamento de programas que computam juros, organizam informações em ordem cronológica ou calculam a idade das pessoas.
Poderá acontecer, por exemplo, de o computador calcular sua idade errado e lhe negar direitos de aposentadoria.
Os sistemas de inventário podem pedir estoques nas horas erradas e em quantidades erradas. Os prazos de obrigações financeiras podem não ser cumpridos.
O problema é que determinados programas de computador, principalmente aqueles escritos há alguns anos para computadores de grande porte (mainframes), só contam os dois últimos algarismos quando gravam um ano. O ano 1996 é gravado como 96, 1997 como 97 e assim por diante.
Durante os primeiros 50 anos da era da informática, o "atalho" dos dois algarismos não era problema.
Nos primórdios da informática, atalhos assim eram necessários porque os programadores tinham de arrancar o máximo possível de desempenho de máquinas que tinham memória limitada e pouco espaço para armazenar dados.
Daqui a pouco mais de três anos, quando o dia 31 de dezembro de 1999 der lugar ao dia 1º de janeiro de 2000, na virada do século, os programas que usam o atalho dos dois algarismos não poderão distinguir o ano 1900 do ano 2000.
A boa notícia é que a maioria dos usuários de PC não será afetada. Não deve haver grande problema com os programas atualizados para computadores pessoais. Os softwares da Microsoft, por exemplo, não causarão problemas.
A má notícia é que alguns órgãos e algumas empresas que ainda utilizam programas velhos para mainframes vão enfrentar um desafio.
Os mainframes são apelidados de museus de software, porque não é incomum encontrar um software escrito há 30 ou 40 anos ainda sendo usado. Naquela época, ninguém estava preocupado com o final do século.
Alguns usuários de PC também terão problemas no final do século. Nos casos em que isso acontecer, normalmente será porque o PC está ligado a um mainframe ou porque o PC está usando um aplicativo criado sob medida para uso de determinada empresa.
Esses aplicativos criados sob medida, incluindo macros, às vezes não satisfazem os mesmos padrões rigorosos de programação seguidos pelos aplicativos comerciais.
Antes do ano 2000, as empresas que utilizam programas antigos ou criados sob medida para elas terão de fazer um exame em seu software. Isso custará caro quando houver milhões de linhas de código de programação para serem revistas, especialmente se quem escreveu o código já tiver morrido ou se aposentado.
Não quero exagerar a importância do problema de datas porque ele é apenas um exemplo de como as mudanças ocorridas no mundo obrigam as empresas a reavaliar seus programas. Mudanças nas exigências da legislação tributária e até mesmo em linhas de produtos podem motivar a modernização dos sistemas informatizados de uma empresa.
Pergunta - Você acha que, quando se depende excessivamente do computador para obter estímulo mental e conhecimentos, isso pode, na realidade, levar à redução da capacidade cerebral? bmwel@map.com.
Resposta - Pelo contrário: o computador estimula o cérebro humano de maneira muito positiva. Diferentemente da televisão, que oferece uma experiência coletiva, o computador nos envolve em uma experiência individual. Sua interatividade nos permite aprofundar nossos próprios interesses.
Sou um daqueles que acham que as crianças devem aprender a fazer contas com lápis e papel, apesar de as calculadoras poderem fazer as contas em seu lugar.
Mas, ao mesmo tempo, não tenho dúvidas de que o computador pode ajudar a criança a desenvolver uma parte maior de seu potencial mental.
Pergunta - Fiquei surpresa quando ouvi falar de sua recente aquisição do Arquivo Bettmann. Acho interessante que você opte por investir em uma instituição tão diferente de sua empresa de software. Você tem planos para o arquivo que possa divulgar?
Mechelle R. Leduc (Farmington Hills, Michigan)
Resposta - O Arquivo Bettmann é uma coleção de 16 milhões de imagens fotográficas que fazem a crônica do século passado. É um tesouro que merece estar à disposição do público em todo o mundo.
Foi adquirido no ano passado pela Corbis, uma companhia que fundei em 1989 e que é separada da Microsoft.
A missão da Corbis é pegar imagens de todos os tipos -vindas desde grandes fotógrafos como Ansel Adams até de museus importantes e de coleções históricas como o Arquivo Bettmann- e torná-las facilmente acessíveis em formato eletrônico.
Estamos digitalizando imagens de alta qualidade e vamos facilitar o processo de sua compra com direito a usar as imagens. Antecipamos que muitas das transações serão realizadas via Internet.
Eventualmente, milhões de pessoas pelo mundo afora terão acesso às imagens eletrônicas do Arquivo Bettmann, incluindo o conteúdo integral da biblioteca fotojornalística da agência United Press International (UPI).
A idéia de que milhões de pessoas poderão ter acesso a milhões de imagens teria sido quase inimaginável há alguns anos. É instigante ajudar a fazer com que isso aconteça.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mail askbill@microsoft.com

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