São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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DESENVOLVIMENTO HUMANO

Ao final de seu livro sobre "O Breve Século 20", publicado em 1994, o historiador britânico Eric Hobsbawm sugere que a "distribuição social, e não o crescimento, dominaria a política do novo milênio". É sempre temerário fazer previsões sobre que rumos tomarão as sociedades em diferentes nações. Mas os impressionantes dados apresentados no último relatório da ONU sobre desenvolvimento humano permitem supor que a questão da desigualdade tende a ser, se não o centro de renovadas atenções, ao menos a origem de graves problemas.
Em 1960, o quinto mais pobre da população mundial recebia apenas 2,3% da renda global. Os 20% mais ricos ficavam com 70% do total. Por surpreendente que isso possa ser, essa distribuição ainda piorou. Em 1993, a faixa de rendimento inferior passou a receber 1,4% da renda do planeta, enquanto a superior absorvia 85%. A ONU aponta as deficiências sociais, especialmente na formação do chamado capital humano, como freio ao desenvolvimento.
O relatório também traz, porém, elementos de otimismo. Há medidas que podem resultar em enormes retornos econômicos e sociais. A principal delas é o investimento em educação e saúde. O acesso universal ao ensino e a condição sadia dos trabalhadores foram enfatizados como razões de sucesso econômico.
A ONU compara o desempenho da Coréia do Sul, onde 94% das crianças cursavam o primário em 1960, com o do Paquistão, país no qual as matrículas alcançavam então só 30% dos meninos e meninas. Os dois tinham o mesmo nível de renda em 60. Nos 25 anos seguintes, o primeiro cresceu três vezes mais que o segundo.
Na avaliação dos investimentos no homem, o desempenho brasileiro foi, infelizmente, muito insatisfatório. Na América Latina, o documento coloca o Brasil ao lado de Honduras, El Salvador, Bolívia e Haiti, entre "os países de menor eficiência em transformar sua renda em desenvolvimento humano". Crescer é bom, mas não basta. O desafio é proporcionar vida melhor à população.

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