São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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RISCO MORAL

Parece iminente uma solução para o destino do Banco Bamerindus. Nos últimos dias houve suspensão de negócios com seus papéis nas Bolsas, cogita-se de uma fusão com outro banco, e o seu dono, o senador e ex-ministro José Eduardo Andrade Vieira, reuniu-se com o presidente FHC para tratar do assunto.
Se a solução será rápida, ainda não se sabe. Mas é fundamental, em mais um episódio da reestruturação do sistema bancário brasileiro, que haja maior transparência de critérios, recursos e propósitos no que se refere ao papel do governo na operação.
É preciso sublinhar que, diferentemente do ano passado, quando os casos do Nacional e do Econômico aumentavam claramente o risco sistêmico, hoje a situação é outra. O Proer foi aplicado em vários casos, as restrições ao crédito diminuíram, a inadimplência em alguns setores ao menos estabilizou-se.
Em suma, à medida que o Proer teve o mérito de afastar os temores de uma crise geral, o uso de recursos públicos e mesmo o recurso ao Proer devem ser cada vez mais seletivos, rigorosos e justificados.
O risco maior, hoje, não é sistêmico (ou seja, de contaminação dos circuitos de crédito numa reação em cadeia), mas moral. Nas finanças, o risco moral está associado, não à irresponsabilidade do agente privado, mas à excessiva generosidade das autoridades com o dinheiro público.
Adicionalmente, deve-se ter em mente que além de evitar o risco sistêmico a ação das autoridades deve pautar-se sobretudo pela proteção a depositantes e correntistas. O uso de recursos públicos para "salvar" uma instituição não pode ser confundido com a oferta indiscriminada de recursos para salvar acionistas.
A percepção dos riscos é um dos sinais mais relevantes, nas economias de mercado, para a tomada de decisões. Um governo que premia ou resgata empresas ou bancos usando recursos públicos de modo pouco transparente ou ilegítimo está, na prática, imaginando que pode simular uma economia sem riscos.
Aumentar o risco moral é, nesses casos, impedir o desenvolvimento saudável dos mercados e, no limite, contribuir para o aumento futuro do próprio risco sistêmico.

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