São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Chile

ANTONIO DELFIM NETTO

A demissão de Roberto Zahler da presidência do Banco Central do Chile é um sintoma das disputas que existem em todos os países entre os que dão maior ênfase ao controle da inflação e os que preferem o desenvolvimento mesmo à custa de riscos inflacionários.
Zahler é um excelente economista. Formado em Chicago, ele produziu vários trabalhos sobre economia monetária, dentre os quais um pequeno clássico ("Política monetária com a abertura da conta de capital", "Revista da Cepal" nº 48, dezembro de 1992), onde analisa com segurança as contradições que existem entre o controle da inflação e a estabilidade do câmbio num regime de liberdade de movimento de capitais.
É muito provável que a saída de Zahler se deva ao fato de que o governo deseja conservar a taxa de crescimento nos elevados níveis em que ela se encontra (um pouco mais de 9% em termos reais, entre maio/95-maio/96). O comportamento da economia chilena tem sido extraordinário nos últimos anos, como se vê na tabela abaixo:

Ano PIB (+) Inflação (+) Exportação (++)
1994 4,7 8,9 11,6
1995 8,3 8,2 16,0
1996 (*) 7,9 7,0 16,5
(*) Previsão (+) Taxa anual (++) Em bilhões de dólares

O Chile tem um sistema de câmbio deslizante, com a paridade central fixada pelo Banco Central e uma banda de flutuação de 10% para mais ou para menos. As exportações chilenas (como a de todos os países em desenvolvimento -com exceção do Brasil) cresceram vigorosamente (38%) em 1995. As reservas de divisas andam em torno de US$ 14 bilhões.
Por que, então, seria o sr. Zahler favorável a um aumento da taxa de juro e a uma redução do nível de atividade? A taxa de juro básica nominal é hoje da ordem de 12,3%, com uma inflação de 8,3% (junho/95-junho/96), o que nos deixa com uma taxa de juro real da ordem de 3,7%. A agricultura, comércio e indústria têm taxas de juros reais da ordem de 6% (compare com a nossa taxa de juro real da ordem de 40%!).
Aparentemente, a resposta reside no fato de que o Chile poderá estar sujeito a um grave problema. O cobre representa 40% das suas exportações e os seus preços, depois do escândalo Sumitomo, caíram cerca de 35%.
O grave é que o preço do cobre está agora em torno de 2/3 do preço médio de 1995, o que torna a previsão de exportação de US$ 16,5 bilhões extremamente otimista. Haverá uma grande queda das relações de troca do Chile, o que produzirá uma queda do PIB real.
Como no Chile as importações estão estreitamente ligadas às variações do consumo, se o governo insistir em manter o nível de atividade atual (em torno de 9%), o déficit em conta corrente se ampliará e o equilíbrio da economia dependerá da percepção dos aplicadores estrangeiros se se trata de um problema passageiro ou de uma mudança mais profunda que deverá produzir alteração na taxa de câmbio real.
A saída do sr. Roberto Zahler da presidência do Banco Central certamente não é um sinal tranquilizador para os investidores nas economias emergentes.

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