São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Rita Lee prepara livro "sensorial"

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1988, Rita Lee compôs uma balada para Xuxa. Batizou-a de "Bela BB", referência à atriz francesa Brigitte Bardot.
A rainha dos baixinhos nunca gravou a música. E a decana do rock brasileiro acabou por esquecê-la. Foi se lembrar da cria somente agora, quando as editoras Melhoramentos e Dórea Books and Art (DBA) convidaram-na para preparar o livro "Rita Lyrica".
O volume, ainda inacabado, reunirá entre 100 e 150 letras da compositora. Há criações de todas as fases (Mutantes, Tutti Frutti, Roberto de Carvalho), mas é só a metade do que Rita produziu em 30 anos de carreira.
Desde 1966, a cantora assinou (e divulgou) 228 músicas. Fez outras 80, que permanecem inéditas. Destas, apenas "Bela BB" estará em "Rita Lyrica".
A Melhoramentos e a DBA lançam a compilação no dia 24 de agosto, durante a 14ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Com 144 páginas e tiragem de 10 mil exemplares, a obra custará R$ 45. Tem acabamento de luxo e não lembra nenhuma outra do gênero já editada no Brasil.
Não é um songbook porque carece de partituras. Também não pretende ser uma biografia com letras anexas -à semelhança da que a Companhia das Letras publicou sobre Chico Buarque.
"Estamos produzindo um livro sensorial, mais para ver e tocar do que para ler", diz o designer Kiko Farkas, 38, responsável pela concepção gráfica de "Rita Lyrica".
O editor Alexandre Dórea Ribeiro, 42, da DBA, empresta palavras da cantora para definir o volume. "Ela nos pediu algo irônico, bem-humorado, brasileiro, lisérgico, psicodélico e tropicalista."
Não à toa, o visual do livro remete às coletâneas com hits dos Beatles que o artista Alan Aldridge editou na Inglaterra, em 1969.
"Rita Lyrica" traz pouquíssimo texto. Fora o prefácio, há somente as letras -que a compositora selecionou e que Roberto de Carvalho, seu marido, revisou. (O casal está de férias nos Estados Unidos e, por ora, não dá entrevistas.)
O resto são ilustrações. Para criá-las, Farkas abriu o "baú de Rita". Pegou pertences da roqueira e juntou à "memorabilia" reproduções de imagens que se tornaram símbolos dos anos 60 e 70.
Aproveitou desde retratos da fotógrafa Diane Arbus até gravuras de artistas pop como Milton Glaser e Roy Lichtenstein.
O resultado se casa muito bem com a anarquia preconizada por Rita e resumida já no título do livro. A expressão "lyrica", à moda dos poetas concretos, contém uma série de significados e associações.
Alude à palavra inglesa "lyrics" (letras). Ou pode ser lida como "Leerica", "lírica" e "Learyca" (de Timothy Leary, guru do LSD).
Pena que, na obra, não apareça uma versão inédita de "Arrombou a Festa". Concebido há 13 anos, o rock ri da própria compositora: "Eu acho que Roberto de Carvalho e Rita Lee/ São os moderninhos Jane e Herondy/ Atores de novela que se metem a cantar/ Oh, Deus, ninguém merece esse castigo pra escutar".

LEIA MAIS sobre o livro à pág. 4-3.

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