São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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ESTROBOSCÓPIO

As oscilações da Bolsa de Nova York nos últimos dias mostraram uma violência ímpar. Os mercados mundiais em boa medida refletiram esse movimento, em geral caindo junto. Não se pode ainda dizer que o clima seja de pessimismo. Impera sobretudo a perplexidade.
Vários fatores agiram simultaneamente para injetar nervosismo no mercado. Em primeiro lugar, os indicadores de atividade na economia americana têm mostrado um vigor acima das expectativas.
E ainda que a inflação não seja uma ameaça, os investidores têm na cabeça um modelo segundo o qual crescimento acima do esperado é sinônimo de inflação futura. O medo da inflação produz mudanças nas carteiras de investimento que se alastram, nem sempre de modo ordenado.
Outro elemento importante é a divulgação dos resultados das empresas no segundo trimestre. O desempenho não é uniforme, mas há uma sensação de que o entusiasmo com as novas tecnologias de informação talvez tenha ido um pouco longe demais. No dia-a-dia, os papéis de setores intensivamente tecnológicos têm estado entre os mais voláteis.
Há, finalmente, a sensação de que a trajetória de alta firme e continuada durante quase dois anos possa ter ido além de suas possibilidades. Alguns fundos de investimento têm reduzido seu apetite por ações. Muitos acreditam na iminência de um movimento de correção dos exageros dessa euforia. Entretanto, ao mesmo tempo há outros indicadores que sugerem uma situação que, se não é de calmaria, ao menos não é assustadora. Na semana passada o presidente do banco central americano, Alan Greespan, reafirmou sua convicção de que a economia não cresce desmesuradamente e de que a inflação não é uma ameaça imediata.
Ao mesmo tempo, Greespan insistiu na visão convencional de que, aos primeiros sinais de desequilíbrio, o Fed agiria imediatamente. E as taxas de juros de longo prazo, embora tenham subido nas últimas semanas, não iniciaram um movimento irreversível de alta.
Ou seja, os chamados "fundamentos" não parecem tão fora de lugar quanto o nervosismo das Bolsas dá a entender. O mercado global depende a tal ponto das expectativas e estas mudam tão rapidamente que, afinal, o frenesi pode não representar na prática qualquer ameaça sistêmica.
Como nas boates, às vezes se dança freneticamente, mas uma iluminação estroboscópica pode revelar que tudo não passa de ilusão.

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