São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Mortalidade por crack é maior em SP

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A mortalidade entre usuários de crack em São Paulo é, em média, 13 vezes maior em comparação com a de dependentes de drogas em geral no mundo.
A conclusão é de uma pesquisa da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
No final do ano passado, a Uniad avaliou os primeiros 103 usuários de crack que foram internados, em 1993, no Hospital Geral de Taipas (zona norte de SP). Verificou-se que 12,6% dos jovens haviam morrido -sete de morte violenta (assassinato, por exemplo), cinco de Aids e um por overdose.
Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que a mortalidade entre usuários de drogas é de 1%, portanto, quase 13 vezes menor do que o número obtido com crack em São Paulo.
"A mortalidade causada pelo crack demonstrou ser excessivamente alta em São Paulo. Significa que os usuários da droga tiveram 45 vezes mais chances de morrer do que a população da mesma faixa etária", afirmou o coordenador da pesquisa, o médico Ronaldo Laranjeira.
Segundo ele, as consequências do uso de cocaína, por exemplo, provocam a morte de 0,8% a 1% de seus usuários.
O perfil dos pesquisados é de jovens de classes média, solteiros, com idade em torno de 23 anos.
Laranjeira realizou a pesquisa em parceria com o médico John Dunn, do Instituto de Psiquiatria de Londres (Inglaterra).
Recuperação
O trabalho mostrou que 29 (28,1%) dos 103 dependentes de crack deixaram de usar a droga em 1995. Cinquenta continuavam usando a droga. Dos 103, nove estavam presos e dois desaparecidos.
A pesquisa mostrou também que o uso de crack está relacionado com o aumento da violência. "Isso é comprovado pelo fato de sete das 13 mortes terem sido por causas violentas", disse Laranjeira.
Ele condicionou o baixo índice de recuperação dos dependentes de crack (28,1%) à "falta de estrutura de acompanhamento médico do paciente depois que ele deixa o período de desintoxicação".
"É preciso haver integração entre a prefeitura e o Estado para juntos oferecerem uma rede extra-hospitalar de ambulatórios e de clínicas que possam acompanhar o paciente em fase de recuperação", disse ele.
O assessor de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde, Elias Monteiro Lino, disse que o Estado vai criar 150 novas vagas para o atender usuários de drogas. "A tendência é tratar do dependente em hospitais gerais para livrá-lo do estigma do hospital psiquiátrico."
Efeitos da droga
O efeito do crack -droga que se fuma- é quatro vezes mais rápido do que o de drogas injetáveis.
Segundo Ronaldo Laranjeira, o crack demora cinco segundos para provocar a sensação de prazer, enquanto a cocaína injetada, por exemplo, leva 20 segundos.
"A fumaça do crack vai para o pulmão e depois para o cérebro. Já as drogas injetáveis têm de passar pelas veias e fígado até atingirem o cérebro", afirmou Laranjeira.

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