São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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BC sofre crítica por tentar evitar risco

CELSO PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Se um banco central achar que deve evitar a quebra de um banco, a última coisa que deve fazer é dar a entender que agirá desta forma em outros casos. É preciso manter certa ambiguidade, caso contrário o risco desaparecerá.
"Tem que haver a disciplina da falência", recomendou o professor Charles Goodhart, da London School of Economics, considerado um dos grandes especialistas internacionais na área.
Goodhart participou do seminário organizado pelo Banco Central, com o objetivo de discutir qual o modelo ideal para seu futuro. Dos debates de ontem, ficou claro que, em alguns aspectos, o BC brasileiro opera na contramão da tendência geral. Uma das críticas feitas ao BC depois da intervenção no Banco Nacional é que criou um modelo que elimina o risco de falência dos grandes bancos.
Goodhart acha que a falência de bancos poderia ser evitada se o BC aplicasse restrições progressivas a bancos que não atendessem às exigências mínimas de capital: impedir a distribuição de dividendos, proibir novos empréstimos e exigir uma recapitalização.
Pode-se prevenir, mas não evitar fraudes. Mas é cada vez mais difícil aos BCs controlar os bancos, observou Andrew Crockett, gerente-geral do BIS.
O BIS criou, em 80, a exigência de capital mínimo para os bancos em relação a seus empréstimos. Hoje, o próprio Crockett admite que esta exigência (recém implementada no Brasil) já não garante a integridade dos bancos. Mecanismos sofisticados, como operações de derivativos, permitem aos bancos contornar as exigências.
E como as autoridades podem evitar colapsos? Segundo Crockett, a tendência é os BCs se apoiarem, cada vez mais, nos sofisticados sistemas de controle de risco montados pelas próprias instituições financeiras privadas. Além de controlar as práticas das instituições para evitar fraudes ou distorções, lembrou Goodhart.
Por exemplo: ao distribuir bônus generosos aos executivos, calculados sobre as operações, os bancos podem estimular os executivos a acumular maus empréstimos para embolsar lucros. (Exatamente o que, ao que tudo indica, aconteceu no caso do Banco Nacional.)
Dois outros pontos críticos são aplicáveis ao Brasil. Tanto Goodhart quanto Crockett insistiram que a maioria dos BCs em países desenvolvidos não seguem mais metas de controle quantitativo da moeda. O avanço tecnológico e a liberalização dos mercados retiraram a eficácia deste tipo de controle.
A maioria dos BCs persegue, hoje, metas de inflação como pré-condição para crescer. Usar o BC para reduzir juros e, supostamente, ajudar o crescimento e o emprego é algo que desapareceu depois dos anos 60, disse Crockett.
Quais instrumentos usar? O grande instrumento que sobrou é a taxa de juros, segundo Goodhart. Compulsórios, como usa o Brasil, são "altamente distorsivos e não muito factíveis".

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