São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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O álcool em Istambul

SARNEY FILHO

Após avaliar a dependência atual das fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis e suas consequências desastrosas ao meio ambiente, a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos, a Habitat 2, realizada em Istambul, aprovou resolução sobre a necessária diminuição da poluição nos grandes centros urbanos.
Essa resolução propõe a substituição gradativa do chumbo de gasolina pelo etanol de biomassa -álcool anidro-, como uma solução ambientalmente saudável. Essa aprovação sinaliza a possibilidade de o Brasil tornar-se um dos principais supridores de energia limpa e renovável para o mundo, com grandes vantagens competitivas no mercado internacional.
Segundo a Cetesb, nenhum outro produto combustível pode substituir o etanol com as mesmas vantagens, pois ele contém o maior teor de oxigênio em sua composição. Isso demonstra que a concepção do Pró-Álcool foi acertada e acentua a necessidade de sua implementação, evidentemente ressalvando os desvios que ocorreram no passado.
Nascido para ser uma alternativa energética à crise do petróleo, na década de 70, o Pró-Álcool proporcionou ao país, nesses 20 anos, desenvolvimento de tecnologia nacional no plantio e processamento da cana-de-açúcar e experiência relativa a gerenciamento de nossa matriz energética.
Um dos resultados desse esforço foi o de tornar o Brasil o primeiro país do mundo a eliminar o chumbo tetraetila de seus combustíveis, por meio da utilização do álcool puro ou misturado à gasolina.
Essa gasolina, com 22% de etanol, permitiu redução significativa da emissão dos poluentes pelos veículos automotores. As propostas de continuidade do programa incluem o estímulo ao aproveitamento econômico dos subprodutos da industrialização da cana e à adequada destinação de resíduos.
O álcool brasileiro é o exemplo do que pode interessar ao país no contexto de uma economia globalizada. O Brasil tem na região Centro/Sul os mais baixos custos de produção de açúcar e de álcool do mundo, segundo estudo recente do Banco Mundial. Mesmo nossa produção no Norte/Nordeste, considerada ineficiente, apresenta o quarto custo de produção, superado apenas pelo Centro/Sul, pela Austrália e pela África do Sul.
Não há dúvida de que as perspectivas são excelentes para o setor, o que representará desenvolvimento para o país, por meio da geração de empregos, da modernização das relações de trabalho no campo, da manutenção do patrimônio tecnológico desenvolvido e do consequente aquecimento de sua economia.
Podemos concluir que o Brasil possui grande parte das características necessárias para firmar-se no mercado mundial como um dos principais fornecedores de álcool para a matriz energética global.
Dispomos de enorme área agricultável e dominamos o que hoje há de mais desenvolvido na tecnologia para a produção do combustível ou aditivo. O que nos falta, entretanto, é uma política governamental para o setor, fato que ameaça o cenário otimista até aqui traçado, pois a velocidade da informação e da adequação dos mercados tem surpreendido a todos.
O país não pode, ao participar de um mercado internacional globalizado e extremamente competitivo, experimentar a desorganização da produção de setores em que detém a excelência. Assim, gerenciar a manutenção do Brasil na liderança da produção de combustíveis limpos e de fonte inesgotável é um grande desafio que este governo tem pela frente, cujo êxito depende do vigor de suas iniciativas.

José Sarney Filho, 38, é deputado federal pelo PFL do Maranhão e presidente da Comissão Mista de Planos, Orçamento Público e Fiscalização da Câmara dos Deputados.

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