São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Aprovado em 2º turno o novo imposto do cheque

DENISE MADUEÑO
GABRIELA WOLTHERS

DENISE MADUEÑO; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Taxa deve vigorar em dezembro; isenções podem somar R$ 300 milhões

O governo conseguiu aprovar ontem, em segundo turno, na Câmara, o projeto que cria a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). A volta do chamado imposto do cheque está prevista para dezembro.
Até lá, uma lei ordinária terá de ser aprovada pela Câmara e pelo Senado, regulamentando a aplicação do imposto.
O governo obteve 20 votos a mais do que o mínimo necessário de 308 votos. O placar registrou 328 votos favoráveis, 123 contrários e 5 abstenções. No primeiro turno, o governo conseguiu 18 votos a mais do que o mínimo necessário.
Nas duas ocasiões, só a bancada do PT defendeu o voto contra. Mesmo assim, o deputado Eduardo Jorge (PT-SP) votou a favor.
A lei, a ser enviada pelo governo em agosto, vai fixar em 0,20% a alíquota que será cobrada sobre as movimentações financeiras.
O imposto será cobrado até 31 de dezembro de 1997 e deverá arrecadar R$ 4,8 bilhões.
Segundo o acordo fechado entre FHC e os governistas, o dinheiro arrecadado deverá ser destinado aos hospitais universitários, filantrópicos e da rede pública.
Mas a aplicação da CPMF também vai beneficiar os hospitais particulares. Eles recebem do governo por serviços prestados à população como integrantes do SUS (Sistema Único de Saúde).
A lei vai estabelecer ainda os casos de isenção. O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), afirmou, após reunião com FHC, que três casos já estão definidos.
Não devem pagar a CPMF aqueles que recebem até três salários mínimos e os aposentados com benefícios de até dez mínimos. As cadernetas de poupança sem movimentação durante 90 dias também devem ficar isentas.
As isenções diminuirão em cerca de R$ 300 milhões a arrecadação prevista inicialmente pelo governo com o tributo. Os repasses de recursos entre o setor público também deverão ficar isentos, segundo o líder do governo na Câmara, Benito Gama (PFL-BA). "A isenção será a mínima possível. O setor empresarial terá de ir para o sacrifício", disse.
A promessa das isenções ao líder do PFL foi uma forma de tentar evitar maiores dissidências na bancada pefelista. O partido foi o que mais resistiu à aprovação do imposto dentro da base de sustentação do governo.
A mobilização para aprovar a emenda envolveu, além das lideranças na Câmara, o governador de Sergipe, Albano Franco, e os ministros Adib Jatene (Saúde) e Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos). FHC chegou a telefonar para deputados pedindo votos.
Jatene disse que a aprovação do imposto "vai frear o desmantelamento do sistema de saúde".
Ele recusou-se a comentar reportagem publicada pela Folha, segundo a qual fraudes cometidas por hospitais particulares consomem até R$ 2 bilhões do SUS.
Jatene classificou de "idiota" a manchete da Folha -"Saúde perde R$ 2 bi com fraudes- e de "desonesta" a reportagem. O ministro disse que não falaria mais com a reportagem a respeito.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que FHC ficou satisfeito com a votação e agradecia o "apoio do Congresso".

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