São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Tragédia ao avesso

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A vinculação entre a morte de sete crianças no abrigo municipal, sufocadas, queimadas, e a campanha eleitoral foi do prefeito Paulo Maluf.
Não tivesse se apressado a fazer a relação e talvez a impressão fosse outra.
Mas foi dele o pronunciamento no horário eleitoral de Celso Pitta, e foram dele os absurdos ali contidos. O primeiro:
- ... um antigo alojamento do Metrô, cedido à Prefeitura pelo governo do Estado...
Quem ouvisse pela primeira vez pensaria que a responsabilidade é do Metrô e do governo do Estado. Não, jamais, da prefeitura, que só fez intermediar.
Mais à frente:
- ... incêndios, na sua maioria causados por instalações elétricas feitas de forma irregular e sem a menor preocupação com a segurança...
Esses miseráveis e seus filhos, que não apenas morrem, mas são culpados pela própria morte, eles que não têm a menor preocupação com a segurança.
- ... há mais de 50 anos que essa situação se agrava em todas as grandes cidades...
A responsabilidade é do Metrô e do governo do Estado, ou dos próprios miseráveis mortos, ou de 50 anos de agravamento da situação... jamais da Prefeitura. Por fim:
- ... somente com a construção de Cingapuras iremos eliminando tristes e lamentáveis acidentes como este...
O tortuoso pronunciamento conseguiu transformar as sete crianças queimadas, de peças acusatórias contra o prefeito, em cabos eleitorais.
- ... é importante que o futuro prefeito jamais pense sequer em paralisar essa obra...
Dez mortos em abrigo municipal, sete crianças, e Paulo Maluf não pensa em outra coisa que não eleger o sucessor.
*
Em dia de tragédia, por azar, Paulo Maluf iniciou os ataques ao governo federal, no que promete ser uma longa campanha presidencial.
No novo clipe de Celso Pitta, sobre desemprego, ouve-se "o povo vê banqueiro/ recebendo tanta grana/ dada pelo homem de promessas tão bacanas/ a gente perde a fé".
É um primeiro ataque direto a Fernando Henrique.
Não por coincidência, na propaganda que abriu dizendo, "começa agora o programa que não vai falar mal de ninguém".
*
Foi o primeiro dia de "falar mal" também para um microcandidato, que vem antes de Celso Pitta, no programa.
A estranha coligação PTN-PT do B-PGT chamou de "idéia ridícula" o rodízio de carros. Os tucanos que esperem mais.

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