São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Incêndio abala o PPB e Maluf lamenta as mortes

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na TV, prefeito diz que solução é o Cingapura

As chamas do trágico incêndio na Cohab José Bonifácio, na zona leste de São 90Paulo -onde morreram dez pessoas (sete crianças)-, abalaram a campanha eleitoral de Celso Pitta, candidato do prefeito Paulo Maluf (PPB) à sua sucessão.
O candidato evitou as ruas e, para tentar reduzir o efeito da tragédia, Maluf fez pronunciamento de três minutos no rádio e na TV, no horário eleitoral. O PPB tem 9min23s no horário.
Em sua fala, lamentou as mortes, sem esquecer, no entanto, de enfatizar a defesa da continuidade do Projeto Cingapura -plano habitacional de seu governo.
Maluf não fez qualquer citação sobre a responsabilidade da prefeitura em relação ao incêndio. Lamentou o "brutal acidente" e disse que "São Paulo está de luto".
No pronunciamento, o prefeito explicou que as pessoas que estavam no alojamento que pegou fogo viviam sob viadutos (no Tatuapé e no Glicério). Os favelados foram ali abrigados pela prefeitura.
"Os antigos moradores do viaduto Tatuapé inclusive já estavam ali (no alojamento) porque, meses atrás, outro incêndio destruiu casas improvisadas debaixo do viaduto", lembrou.
O prefeito procurou contextualizar a tragédia como decorrência da "dura realidade" de "milhares de famílias que se amontoam em cortiços favelas, debaixo de pontes e viadutos" -onde são feitas instalações elétricas irregulares que acabam, segundo ele, provocando esses acidentes.
Maluf disse ainda que "há mais de 50 anos que essa situação se agrava em todas as grandes cidades do país", ressaltando que "São Paulo, como a quarta maior cidade do mundo, não é exceção". Com essa declaração, tenta tirar o peso da tragédia sobre a sua gestão.
Ao final do pronunciamento, aproveitou para defender o seu plano habitacional.
"Somente com a construção em massa de Cingapuras em todas as favelas iremos aos poucos eliminando tristes e lamentáveis acidentes como este", disse.
Ele afirmou ainda que "é importante que o futuro prefeito, seja ele quem for, independentemente de partido ou facção política, jamais pense sequer em paralisar essa obra, que é, sem dúvida, o grande caminho encontrado".
Preocupados com eventuais estragos que o incêndio possa causar no crescimento da candidatura Pitta, os coordenadores da campanha agiram rápido, sob a batuta do publicitário Duda Mendonça.
A decisão gravar um pronunciamento foi tomada já pela manhã.
Mendonça não acredita que os adversários de Pitta vão "explorar esse tipo de miséria", responsabilizando a administração Maluf, porque avalia que os respingos podem recair sobre os acusadores. "Ninguém pode responsabilizar o prefeito", afirmou.
Ontem, porém, ocorreu um incidente envolvendo a produtora Diana, que faz o programa de TV do candidato tucano José Serra (leia reportagem à pág. 1-5).
Segundo a assessoria de Maluf, a partir de agora, as entrevistas coletivas serão controladas. Serão pedidas credenciais aos jornalistas.

LEIA MAIS sobre o incêndio em São Paulo no caderno Cotidiano

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