São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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O grande plano

JANIO DE FREITAS

O plano de grandes obras e investimentos governamentais, que está contrapondo os ministros Pedro Malan e Antonio Kandir, não é mais do que perda de tempo e perda do dinheiro público que esse tempo custa. Só não se dirá que é perda de mais alguma coisa pela incerteza de que ela ainda exista.
Encomendado por Fernando Henrique Cardoso, a título de preencher a segunda metade do seu governo com realizações grandiosas, o plano foi estruturado às pressas por Kandir, para figurar já no Orçamento de 97 que o governo tem de mandar agora ao Congresso. Realizações grandiosas, verbas grandiosas. O plano empacou em Malan, que considera o custo incompatível com os recursos de que o governo disporá em 97.
A discussão dos dois ministros é tão ociosa quanto um plano de grandes obras e investimentos governamentais. O governo não desistirá do Plano Real, e a concepção do Plano Real baseia-se em arrochos (exceto para o sistema financeiro em geral e para os bancos em particular), não admitindo investimentos governamentais. Não os admite pela razão definitiva de que não sobreviveria a eles.
Ao invés de possíveis gastos novos, o governo está sufocado pelos gastos já existentes. Por mais que tenha cortado em despesas essenciais e anulado investimentos tidos por indispensáveis, o governo continua incapaz de fazer o equilíbrio, tão prometido antes das eleições, entre o que arrecada e o que gasta. Ou seja, ajuste fiscal sempre reclamado pelos que tomam a permanência do desequilíbrio como ameaça de retorno da inflação.
O plano encomendado por Fernando Henrique e feito por Kandir tem o mesmo valor do besteirol de promessas no renascido horário eleitoral gratuito. Por falar nisso, tem o mesmo valor e a mesma origem. A encomenda e a elaboração não têm a ver com intenções administrativas, mas com projeto político. O papel esperado do plano era pavimentar o trâmite do projeto de reeleição, como resposta aos que apontam o imobilismo do governo de Fernando Henrique Cardoso. E, da mesma maneira, oferecendo uma explicação para os defensores da reeleição darem aos seus eleitores arrochados.
Os governistas esperam aprovar o projeto de reeleição até o final do ano ou, no máximo, ao entrar o novo ano legislativo. O projeto estaria votado, portanto, antes que o plano sequer tivesse tempo de entrar em execução. Como não haveria dinheiro, mesmo, para executá-lo, seria só esquecê-lo. Mas os técnicos da Fazenda não entenderam que a substância verdadeira do plano não eram obras e investimentos entusiasmantes, eram só mentiras governamentais.

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