São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Só falta agora censurar os bichos da Parmalat

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Cada um tem o Salman Rushdie que merece. O nosso é um palhaço desdentado e tosco com um senso de humor tão chulo que é capaz de assustar até quem vê lirismo nas letras dos Mamonas Assassinas.
Me refiro ao Tiririca, o humorista cearense que teve sua música "Veja os Cabelos Dela" censurada por uma juíza metida a paladina do Rio.
Ora, ora, ora. Fiz um texto sobre o assunto para a "Ilustrada" de sábado passado, que saiu todo truncado. Em síntese, dizia que, se um francês fizesse uma música sobre o difundido mito de que seus conterrâneos não são adeptos do hábito de tomar banho, ninguém daria a mínima.
Mas, quando o negro nordestino Tiririca faz uma música dizendo que a nega fede, todo mundo vira gringo politicamente correto e se sente pessoalmente ofendido por uma brincadeira autodepreciativa sem a menor importância.
Com aquele layout de fim de feira, Tiririca só pode mesmo frequentar senhoras que fedem. Ou alguém se ilude que ele tenha passado os últimos anos tomando chá das cinco na companhia da Carmen Mayrink Veiga?
Quando Gabriel, o Pensador, cometeu aquela musiqueta sobre a lôraburra, que eu saiba, nenhum movimento de defesa das minorias subiu nas tamancas. E olha que, no Brasil, loira é minoria das minorias.
Mas, ultimamente, o tapuia entrou numas de achar que demonstrar melindre por qualquer besteira é dar de cidadão desenvolvido.
Andaram censurando página na Internet, implicaram com os concertos do grupo Planet Hemp e agora só falta tentarem censurar a campanha "Mamíferos", da Parmalat, sob alegação de que a ovelha, animal que é sinônimo de submissão, é encarnada por um menino negro.
Veja o caso do jornal argentino que, antes do jogo Brasil x Nigéria, publicou a manchete "Que vengam los macacos".
O que teve de símio vestindo a carapuça, não foi bolinho.
Pois desde que me conheço por gente argentino chama tapuia de "macaquito". A expressão nada mais é do que um misto de provocação com demonstração de carinho.
A mim não incomoda em nada. Afinal, antes ser macaco do que conterrâneo da junta de generais que mandou milhares de rapazes para a morte nas Malvinas, sem motivo algum.

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