São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996 |
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Economistas defendem o ajuste fiscal
CELSO PINTO
José Alexandre Scheinkman, o economista brasileiro de 48 anos que chefia o departamento de Economia da Universidade de Chicago, não tem dúvidas. O que de fato interessa é o ajuste fiscal, diz ele. Se o governo fizer uma desvalorização mais forte, seja de uma só vez, seja pela aceleração dos reajustes, tem grande chance de acabar produzindo apenas mais inflação. Enquanto o setor público estiver desajustado, a taxa de juro continuará alta, atrairá capitais externos e a abundância de dólares continuará pressionando para cima o valor do real frente ao dólar. Scheinkman, aliás, acha que existe uma exacerbação, no Brasil, da discussão sobre o câmbio. Movimentos de subida ou queda de taxas de câmbio tendem a ter pequeno impacto a curto prazo, argumenta. O dólar valorizou-se fortemente frente ao iene sem gerar qualquer impacto maior sobre a economia real. Só num prazo mais longo as diferenças entre inflação local e externa tendem a afetar a taxa de câmbio. O desafio central para o Brasil, sustenta, é fazer com que a taxa de investimentos interna salte dos 18% atuais para algo como 25%, a taxa necessária para sustentar um crescimento de 6% ao ano. São algo como US$ 40 bilhões de investimentos. Como obtê-los? Não basta contar apenas com a entrada de US$ 7 bilhões ou US$ 8 bilhões em investimentos externos. É vital elevar a poupança interna. Uma forma é eliminar o déficit do setor público, daí a importância da política fiscal. Outra seria montar um sistema de previdência social que estimulasse a poupança de longo prazo. Juros menores O ajuste fiscal, por sua vez, tenderia a reduzir a necessidade de juros reais mais altos, isso reduziria a atração de capitais externos e permitiria algum ajuste no câmbio, no sentido de uma desvalorização. Ele não acha que falta à equipe econômica clareza sobre o diagnóstico do que deveria ser feito, incluindo as reformas estruturais, uma aceleração da privatização, modernização do Estado e investimento em educação. O ritmo é lento, mas não coloca em perigo a estabilização a curto prazo. Lars Svensson, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, considerado um dos maiores especialistas mundiais em câmbio, também enfatiza a política fiscal como variável essencial de ajuste. Svensson evita discutir casos latino-americanos, que diz conhecer pouco, mas observa que países que enfrentam períodos de apreciação cambial acabam tendo de ajustar-se. Qual a melhor forma de fazê-lo? Para Svensson é a combinação de três fatores: uma política fiscal dura, um banco central independente e metas inflacionárias claras. Âncora nominal Ele acha importante manter uma âncora nominal para a economia, sob a forma de uma meta inflacionária. Foi isso o que ajudou a Grã-Bretanha a sair de uma desvalorização cambial forte, depois da crise monetária de 1992, sem sofrer um aumento significativo da inflação. Um dos teóricos das bandas cambiais, faixas de flutuação para o câmbio, Svensson continua apostando em sua eficácia. Texto Anterior: Distribuidores de gás reformulam segurança; FHC lança programa de incentivo a agricultores Próximo Texto: Menem rejeita exigências fiscais do FMI Índice |
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