São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Cinema oferece 20 hipóteses para Nelson

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Nenhum escritor deu tanto ao cinema nacional quanto Nelson Rodrigues. Mesmo em números: o ciclo "Nelson Rodrigues no Cinema", que a Sala Cinemateca promove de hoje até 16 de agosto, consta de 20 filmes (17 longas).
A característica mais evidente do ciclo é a diversidade. Filmes como "Toda Nudez Será Castigada" (1973), de Arnaldo Jabor, "O Boca de Ouro" (1962), de Nelson Pereira dos Santos, "A Falecida" (1965), de Leon Hirszman, merecem constar em qualquer antologia de filmes brasileiros.
Mas cada um vai para um lado. Em "Toda Nudez", a ênfase vai para a dualidade essência/aparência, em contraposição às pulsões.
"O Boca de Ouro" traz a história de um bicheiro e tem como fundamento a vida na Zona Norte carioca, um Rio sufocante, apesar de o filme, ao contrário, resultar leve.
Alguns desses trabalhos interessam pelo momento em que foram feitos, como "Meu Destino É Pecar"(1952), produção da Maristela dirigida por Manuel Peluffo.
Superior, mas marcado igualmente pelo momento em que foi feito, é "A Dama do Lotação" (1978), de Neville D'Almeida, sobre uma mulher (Sônia Braga) que só não consegue ter prazer sexual com o marido. É um filme típico da pornochanchada, em que o cinema popularizou as mudanças de comportamento do período.
"A Dama" coloca em destaque uma figura central no repertório de Nelson Rodrigues, a tara.
Autor ligado à vida pulsional, os trabalhos de Nelson Rodrigues têm um fundo popular evidente. Daí as interpretações menos "cultas" de sua obra não serem impertinentes. Casos de "Bonitinha, mas Ordinária" (1980) ou "Álbum de Família" (1981), ambos de Braz Chediak.
Não são grandes filmes. É como se Chediak tomasse Nelson Rodrigues pela casca. Mas essa casca é tão interessante que dá bem para o gasto.
Num ciclo em que o inédito "A Serpente" (1980), de Alberto Magno, apresenta-se como grande curiosidade, podem ser comparadas duas versões do mesmo texto, como "O Beijo" (1964), de Flávio Tambellini, e "O Beijo no Asfalto" (1980), de Bruno Barreto.
Este último faz um copidesque na obra de Nelson Rodrigues. Representa o estilo Embrafilme de cinema: tomava-se um trágico e fazia-se dele um aplicado estudo psicológico. Entre obras-primas e curiosidades, esta é uma mostra significativa sobre Nelson, mas, até mais, sobre o que tem sido -acertos e erros, genialidade e banalidade- o cinema brasileiro de 1950 para cá.

Ciclo: Nelson Rodrigues no Cinema
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 011/881-6542, Pinheiros, zona oeste)
Quando: de hoje a 16 de agosto. Hoje: "Engraçadinha Depois dos 30", de J.B. Tanko, às 18h; "A Falecida", de Leon Hirszman, às 19h50, "Bonitinha, mas Ordinária", de Billy Davis, às 21h30; complemento: "A Nelson Rodrigues", de Haroldo Marinho Barbosa (curta)

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