São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Solene bobagem

GILBERTO DIMENSTEIN

Depois de quatro dias em Brasília, constato uma solene bobagem, disseminada em tom de unanimidade pelos políticos: o resultado da eleição em São Paulo é decisivo para a sucessão presidencial.
A campanha de Bill Clinton para permanecer na Casa Branca serve como indício de que as chances de reeleição de FHC pouco mudam com a vitória ou derrota de José Serra.
A eleição americana é, em essência, a reprodução acima da linha do equador da experiência argentina ou peruana. Importa mesmo o desempenho da economia, o resto é detalhe.
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A biografia de Bill Clinton seria, em tese, uma bofetada na moral americana. Comparada ao tiroteio que ele recebe diariamente, a vida de FHC tem a tranquilidade de um passeio de submarino no lago Paranoá.
É uma dose excessiva até no Brasil: adúltero, vítima de processo de assédio sexual, fumou maconha e está cercado de suspeitas de irregularidades financeiras e sonegação de impostos.
Para completar, pisoteou nas leis de proteção social aos mais pobres, jogando no lixo as promessas de campanha.
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Clinton perdeu, em 1994, o comando do Congresso, até então dominado pelos democratas. Foi uma das maiores derrotas legislativas já sofridas por um presidente americano.
Políticos, jornalistas e consultores diziam que ele estava acabado e não conseguiria governar.
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Apesar da avassaladora derrota no Congresso, Clinton está, hoje, 20 pontos à frente de seu adversário, o republicano Bob Dole. Num gesto de desespero, Dole propôs gigantesca redução de impostos.
Dole tem, ao contrário, a cara da moral americana: casamento aparentemente impecável e herói de guerra -num marketing involuntário, ele tem uma condecoração ambulante, visível na sua mão aleijada.
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Não existe segredo. Nunca a economia americana cresceu tanto com uma inflação tão baixa, gerando 10 milhões de novos empregos.
Se FHC mantiver a inflação baixa com crescimento, e não encontrarem um cadáver ensanguentado na sua banheira no Palácio da Alvorada, tanto faz a derrota de Serra ou a vitória de Pitta na eleição municipal: ele continuaria um candidato forte.
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Um pouco de história. Já foram feitas análises semelhantes sobre a importância em eleições municipais na sucessão presidencial.
Políticos juravam que os governadores derrotados nas capitais teriam dificuldade de se habilitar ao Palácio do Planalto em 1990.
Um dos derrotados na eleição municipal de 1988 foi o governador Fernando Collor.
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PS - Comentário genialmente maldoso que ouvi aqui sobre o esforço de FHC para assegurar a reeleição, numa nova versão da tese do anel: "Fernando Henrique está entregando os cinco dedos para manter a aliança".

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Fax (001-212)873-1045

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