São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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China abole tradução dos seus comunicados oficiais

The Independent
de Londres

TERESA POOLE
EM PEQUIM

Até a assinatura do Tratado Sino-Americano de Wanghia, em 1844, os governantes chineses proibiam os estrangeiros que viviam no Império do Centro de aprender a língua chinesa. O fato mostra até que ponto a corte imperial chinesa temia e desprezava os "demônios estrangeiros".
Hoje, porém, a China está tomando a atitude oposta: a partir do mês que vem os comunicados do governo aos jornalistas estrangeiros serão feitos sem tradução ao inglês, numa iniciativa que o "Diário do Povo" disse "demonstrar que uma China repleta de confiança dá passos maiores para aproximar-se do mundo".
Para explicar a decisão, as autoridades observaram que o Departamento norte-americano de Estado emite seus comunicados apenas em inglês, sem providenciar tradução ao chinês.
A mudança proposta é sintomática do "respeito" mundial reivindicado pela China agora que "seu status internacional se eleva a cada dia que passa", segundo o "Diário do Povo".
A preocupação da China com seu status mundial a cada dia maior é divulgada diariamente na mídia oficial, quer seja em reportagens sobre dignitários estrangeiros em visita ao país, sobre medalhas olímpicas ou sobre o retorno de Hong Kong à soberania chinesa, no ano que vem.
Infelizmente, porém, o governo chinês não parece estar ciente dos possíveis problemas decorrentes de sua nova retidão linguística. Segundo uma declaração oficial, a nova política "possibilitará ao mundo uma melhor compreensão da China".
Mas também é possível que aconteça o contrário. O chinês mandarim é uma língua reconhecidamente difícil, e poucos estrangeiros se sentem capazes de fazer uma tradução confiável das respostas oferecidas nos comunicados do Ministério das Relações Exteriores chinês, muitas vezes expressas com nuances e sutilezas que dificultam a interpretação.
Daqui em diante cada organização de imprensa terá de responsabilizar-se por sua própria versão, e as possibilidades de a linguagem diplomática ser maltraduzida são grandes. Centenas de versões diferentes do que a China disse sobre as relações com os EUA, de Taiwan, Hong Kong ou dos testes nucleares vão pipocar pelo mundo.
O governo chinês proíbe organizações de imprensa estrangeiras de contratar tradutores, exceto por meio do Birô do Serviço Diplomático, dirigido pelo governo, mas muito frequentemente as habilidades linguísticas dos funcionários disponíveis são insuficientes.

Tradução de Clara Allain

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