São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996
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Robert Darnton defende futuro do livro ;

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Robert Darnton defende futuro do livro
O historiador Robert Darnton, 57, acredita que, assim como o teatro e o cinema, também os livros sobreviverão a todas as mortes anunciadas.
Darnton está no Brasil para o lançamento de "O Iluminismo como Negócio" (ed. Companhia das Letras) na 14ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Ele fala hoje, às 9h, no auditório 1 da Expo Center Norte, sobre "Livro e Cultura no Brasil".
No próximo dia 22, Darnton estará, às 18h, no Departamento de História e Geografia da USP, onde dará uma palestra sobre "Iluminismo e Pós-Modernismo".
No dia seguinte é esperado no Rio de Janeiro, onde falará sobre o mesmo tema. Os encontros são promovidos pela Companhia das Letras e pela Folha.
Professor da Universidade de Princeton, nos EUA, e colaborador do caderno Mais!, Robert Darnton é um dos mais importantes historiadores da atualidade; seu trabalho procura estudar o nascimento e circulação das idéias na França do século 18.
"Na época da 'Enciclopédia', as pessoas tinham livros para impressionar os vizinhos", disse em entrevista feita poucas horas depois de sua chegada ao país.

Folha - Uma feira de livros é um evento cultural ou comercial?
Robert Darnton - Eu ainda não estive lá, não posso caracterizá-la formalmente. Mas acho que a grande idéia é reunir vários editores para que apresentem seus lançamentos ao público. E, certamente, eles querem vender livros. E é esse também um dos temas principais da história da "Enciclopédia" na França do século 18.
A economia e o marketing do livro, a maneira que o mercado funciona e como o editor estuda a situação e, quando a oportunidade surge, faz muito dinheiro.
É claro que esse é um choque para quem imaginava a "Enciclopédia" como um objeto secreto, um belo trabalho realizado pela cultura. Eu quis ser provocativo em "O Iluminismo como Negócio".
Eu não pretendia chocar as pessoas, mas mostrar como a "Enciclopédia", o mais famoso produto do iluminismo, é também parte de um sistema econômico, parte da história da classe trabalhadora, das relações sociais, e não fruto apenas do pensamento.
Folha - Vender um livro é ainda vender cultura?
Darnton - O que me fascina nos livros -na história dos livros- é que há várias coisas que se relacionam ao mesmo tempo com esse objeto. É claro que ainda vende cultura, no sentido mais comum da palavra.
Alguns livros apelam a isso, o desejo pela cultura. Pensando agora no caso da "Enciclopédia", várias pessoas a possuíam apenas para impressionar seus vizinhos, nunca lendo qualquer de suas páginas. Bem, isso acontece também hoje. A cultura é ainda um elemento do esnobismo.
Onde há cultura há seriedade. Mas é claro que muitas pessoas leram a "Enciclopédia", e por diferentes razões. E acho que em uma feira de livros, hoje, há um pouco de tudo. Dos esnobes e "glamourosos" aos filosóficos e desejosos da vanguarda. O que na verdade é o mais fascinante em uma feira de livros. Todas as possibilidades existem porque um livro contém também essa infinidade de possibilidades.
Folha - E sobre a tão falada morte do livro?
Darnton - Eu já ouvi tantas pessoas dizendo isso, tantas vezes... Eu estou começando a acreditar que nunca antes ele esteve tão vivo. A televisão, se acreditava, acabaria com o livro, o cinema e o teatro. Acho que é muito simples acreditar nisso.
Eu pessoalmente não gosto da televisão, a TV comercial, que eu acho estúpida. No mundo há diferentes mídias, funcionando ao mesmo tempo. Mas isso também era verdade no século 18, só que as pessoas acabam se esquecendo disso.
A "fofoca" era uma mídia, canções eram poderosas. As pessoas cantarolavam letras politicamente explícitas.

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