São Paulo, domingo, 18 de agosto de 1996
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Mulheres podem fazer cirurgia

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O procedimento para afinar a voz também está disponível para mulheres com voz grossa, mas nenhuma ainda se candidatou. Um dos principais problemas em relação à técnica não é clínico, é ético.
"É muito difícil dizer exatamente em quem a operação deve ser feita. Nosso público-alvo hoje é o transexual masculino", disse o médico Manfred Gross.
Na Alemanha, essa definição é assunto legal. O transexual é considerado um indivíduo com características psicológicas únicas.
"Apenas são homens que se sentem mulheres presas num corpo de homem. São totalmente diferente de travestis, que apenas gostam de vestir roupas femininas. Eles odeiam tudo em seus corpos que os façam parecer homens e não são, definitivamente, homossexuais."
A frase está em artigo de Gross e seu colega Markus Hess na revista "Aktuelle phoniatrische-pädaudiologiesche Aspekte".
Lei
Essa precisão de definição provém de uma necessidade legal. Para um alemão mudar de sexo de forma legal, em cartório, é necessária uma avaliação psiquiátrica rigorosa. O processo leva em média dois anos, sendo decidido por um juiz da comarca local.
"Na maioria dos casos, os transexuais já mudaram de sexo no meio do caminho", disse Gross.
Por decisão do conselho de ética da Freie Universität, apenas transexuais com a aprovação legal da Justiça alemã podem ser operados para ter sua voz afinada.
"Isso evita desvios, principalmente no período de pesquisa inicial".
Gross, porém, não descarta a ampliação do procedimento a outros pacientes, livremente. E isso já pode ocorrer, diz, no caso de o interessado ser estrangeiro -algo inédito, porém, entre os 20 já operados e os 10 que estão na fila.
Além das observações legais, a própria equipe de Gross analisa o caso antes de aceitá-lo.
Essa avaliação, que leva em conta tanto entrevistas com psiquiatras e psicólogos quanto análise da função pulmonar do paciente, leva em média quatro horas.
Compromisso
Uma vez convencidos os médicos, o paciente tem de assinar um termo de compromisso sobre a cirurgia -em que assume tanto os riscos de ela não dar certo quanto os de se arrepender depois de feita a cirurgia.
"Mas isso me parece extremamente difícil depois de tanta discussão", disse Gross.
(IG)

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