São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Fundos de pensão: A previdência que deu certo

PAULO TEIXEIRA BRANDÃO

Os fundos de pensão brasileiros vêm, há anos, cumprindo com honestidade e eficiência a sua missão: garantir pensões e aposentadorias dignas para cerca de 10 milhões de trabalhadores.
E, para que isso seja possível, investem a poupança que administram em atividades produtivas, gerando progresso para o país e distribuindo renda para sua gente.
No entanto, periodicamente, os fundos de pensão são violentamente atacados.
Até então os ataques concentravam-se em pseudoprivilégios, isto é, alguns trabalhadores teriam direito a benefícios ilegais.
Não se procurava explicar que os benefícios não eram imorais e, sim, justos; receber uma aposentadoria digna não é um privilégio e sim um direito.
Hoje, esse argumento felizmente está saindo de moda. O povo, que se acostuma a viver sem inflação, está perto de perceber que aposentadoria justa é um direito e que a solução não é acabar e sim desenvolver cada vez mais o sistema de aposentadoria complementar, a única saída viável para a crise previdenciária.
Com a sugestão do privilégio começando a desaparecer, buscaram-se novos pontos de ataque contra os fundos de pensão.
Alguns tentaram apelar para uma possível queda de rentabilidade, sem no entanto procurar explicar suas causas, como a queda das Bolsas de Valores, de importância pequena para os investidores de longo prazo, como as entidades de previdência privada.
Depois, decidiu-se propositalmente confundir o sistema de fundos de pensão com o programa de privatizações e as aplicações desses fundos começaram a ser patrulhadas.
Se não atingiam interesses mais poderosos, tudo bem. Se atingissem, então eram acusados de estarem estatizando o país. Comprar a Perdigão, por exemplo, ou mesmo a Embraer, foi possível.
Tentar participar mais ativamente do complexo siderúrgico brasileiro, não. Os interesses eram evidentes demais.
Agora, a bola da vez é o rombo. Os fundos apresentariam rombos enormes que os impossibilitariam de cumprir suas missões.
Os atuários são deixados de lado; ninguém os procura para saber a verdade e o que pesa é a palavra do leigo, do curioso. Os programas de incentivo à aposentadoria e de demissões voluntários que as estatais vêm realizando não levaram em conta o impacto que teriam sobre os fundos.
Assim, problemas a serem resolvidos a curto ou médio prazo são apresentados como se significassem o caos total.
O trabalho e a dedicação de anos são desprezados, reputações de pessoas sérias são postas em dúvida e, o pior, tenta-se destruir um sistema que funciona, uma vez que os fundos de pensão representam a Previdência Social que deu certo.
Resta, então, uma pergunta: Por que tudo isso? É lógico que não se pode acreditar que o prazer de destruir o que funciona seja a causa de toda essa campanha de mistificação. E se não é isso -esse prazer mórbido que alguns poucos tanto gostam- é preciso repetir a pergunta: Por que essa campanha organizada, orquestrada?
A resposta é muito fácil. Os fundos de pensão têm ativos muito grandes, como aliás, acontece em todo o mundo.
Como recebem hoje o que vão gastar daqui a 20 ou 30 anos, têm sempre em suas mãos uma grande quantia para investir. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde não são acusados de manter privilégios, os fundos detêm mais de 50% do PIB do país.
Aqui no Brasil, o ativo dos fundos está na casa dos US$ 60 milhões, uma quantia grande, que é administrada pelos próprios fundos. E é exatamente por isso que eles têm sofrido.
No dia em que terceirizarem suas carteiras, permitirem aos grandes conglomerados financeiros participar desse enorme bolo, a campanha cessará de imediato.
Na verdade, não existem rombos nem escândalos. Existem apenas interesses suspeitos. Os fundos de pensão serão outra vez maravilhosos no dia em que cometerem a loucura de entregar seus ativos ao sistema bancário. Então tudo isso acaba.

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