São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Líbero salva baixinhos e veteranos

Regra será testada no Grand Prix

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Um colete preto com a letra "L" vai identificar a partir do fim do mês, no Grand Prix, o líbero de cada equipe, na nova experiência do vôlei mundial.
A jogadora Sandra, 33, será o líbero do Brasil no torneio, versão feminina da Liga Mundial.
A regra que cria o líbero é experimental. Só será adotada definitivamente se atingir os objetivos da Federação Mundial de Vôlei.
A entidade quer impedir que o vôlei siga o caminho do tênis, esporte em que a força no saque passou a ser decisiva. O líbero fortalece as defesas. O que muda:
1) Cada time passa a ter um jogador que só pode atuar nas três posições do fundo de quadra.
2) O líbero não é um sétimo atleta, mas um dos seis na quadra.
3) Ele pode entrar no lugar de qualquer jogador do fundo da quadra, a qualquer momento, sem limite de substituições.
4) O líbero é proibido de atacar, mesmo da linha de 3 metros.
A experiência reforça as defesas porque, em vez de ter nas três posições do fundo da quadra um atleta que seja mais eficiente no ataque, os técnicos poderão ter sempre um especialista em passe e defesa.
Sandra foi escolhida para a função porque tem um dos melhores passes do país. "Não dá para ter uma idéia formada de como vai ser, porque precisamos testar para nos adaptar", disse ela.
A seleção embarca hoje para o Havaí, onde vai treinar com líbero.
A estréia no Grand Prix será no dia 30, em Jacarta (Indonésia), contra a Coréia do Sul.
A adoção do líbero vai exigir uma mudança de Sandra. Embora ela habitualmente entre na seleção no fundo da quadra, para defender, eventualmente também ataca.
Agora, se atacar, o time perde o ponto. "Tenho que botar isso na cabeça", disse Sandra. "O objetivo é deixar a bola mais tempo no ar."
A nova função, de certo modo, revaloriza os atletas de baixa estatura e impulsão limitada.
No fundo de quadra, onde eles poderão ficar todo o tempo, a técnica é mais importante.
Nos bastidores do vôlei, a introdução do líbero foi interpretada como um gesto de boa vontade com os países asiáticos, cujos jogadores costumam ser mais baixos e fazer menos musculação.
"A defesa é uma característica forte da escola asiática, que será favorecida", confirma Sandra, que tem a mesma opinião do técnico Bernardinho.
"Mas Cuba e Rússia, que não têm características de defesa, não terão vantagem. Para nós, ajuda, porque o brasileiro tem a manha."
Se a regra do líbero vingar, aumentará a longevidade dos jogadores especialistas em defesa.
"A Fernanda Venturini (levantadora) brinca dizendo que, agora, eu vou jogar até os 50 anos", conta Sandra, 1,79 m de altura.
A longevidade é fácil de entender: o líbero não precisa ter a mesma impulsão e força dos atacantes, apenas manter a qualidade técnica (passe) e os reflexos (defesa).

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