São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Educador critica atuação do SOS Criança

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Educadores e profissionais que cuidam de menores criticaram ontem a forma como os funcionários do SOS Criança estão retirando as crianças das ruas de São Paulo.
Anteontem, a Folha flagrou uma confusão entre educadores do órgão estadual e duas crianças que pediam esmola na avenida Paulista (região central).
A menina C.R.A., 9, e seu irmão J.R.A, 7, estavam sendo levados à sede do SOS. Eles choravam e se recusavam a acompanhar os funcionários.
Na operação de anteontem, foram recolhidas 94 crianças. A ação fez parte de uma estratégia do órgão para tentar mudar a sua imagem e atrair mais menores de rua.
Tradicionalmente o SOS Criança "assusta" os menores, que acham que vão ficar presos ou ter alguma outra punição.
Para isso, o órgão lançou a campanha Criança Legal. Os educadores distribuem uma moeda fictícia, o "legal". Nos abrigos do SOS, as crianças podem abrir uma "conta" e, com o crédito, trocar por roupas ou cestas básicas.
"Legal seria que houvesse escolas para todas as crianças e que o Estado não as tratasse assim", disse o padre Júlio Lancelotti.
O padre Júlio diz ter ficado "chocado" ao ver a foto na primeira página da Folha de ontem, em que a menina C. chorava ao ser levada para o SOS. "O rosto dela era de pavor."
O Conselho Tutelar da Criança, órgão responsável por fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente, está estudando uma maneira de "denunciar" a ação do SOS Criança. "A ação dos educadores feriu o estatuto", diz o conselheiro Edson Francisco Profeta, do conselho da Sé (região central).
Segundo ele, o estatuto garante a liberdade de ir e vir das crianças, a não ser que elas estejam cometendo algum crime. Como esmolar não é crime, diz Profeta, os educadores não podiam ter forçado as crianças a ir para os abrigos.
Para o coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza, o caso dos irmãos C. e J. foi "isolado". Ele nega que tenha havido qualquer tipo de violência.
Sapienza também afirma que a operação foi um sucesso. "Está aumentando o número de crianças nos procurando. Estamos conseguindo vencer a resistência delas."
O SOS programa um novo "mutirão" para a semana que vem. A data ainda não foi marcada.

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