São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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'Deixei eles irem ganhar trocados'

Mãe diz que não tinha dinheiro para leite

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro dia de volta à casa, C. e J. ontem brincavam com os três irmãos pequenos em volta do barraco onde moram em Itaquaquecetuba (35 km de SP).
Quando perguntada por que correu dos educadores do SOS Criança, C. dá risadas, não diz nada e continua a brincar.
O barraco, feito de madeira, fica encostado em um muro que divide uma estrada deserta -e de alta velocidade- da linha ferroviária.
Em apenas um cômodo, as duas crianças moram com os pais (a mãe está desempregada e o pai é faxineiro do Metrô) e cinco irmãos. Não água ou luz.
A irmã mais velha tem 16 anos e já tem um filho, um bebê de dois meses. O outro filho adolescente, também de 16, está na rua há um ano, mas visita os pais de vez em quando.
Ontem, eles só tinham o que comer porque funcionários do SOS Criança haviam entregue uma cesta básica.
"Meu marido ganha R$ 158 por mês. Alguns dias atrás eu não tinha dinheiro nem para comprar o leite do bebê. Foi aí que meu pai se ofereceu para levar as crianças para São Paulo e conseguir alguns trocados. Eu deixei, mas fiquei preocupada. Tenho medo que eles se misturem com essas crianças que cheiram cola", disse a mãe das crianças, Rosângela Rosa de Andrade.
A família mora em Itaquaquecetuba há cinco meses. Vindos de Caruaru (BA) há um ano, eles se instalaram primeiro em Santos (Baixada Santista), mas decidiram se mudar "por causa dos vizinhos". "Tinha muito bandido morando perto", diz Rosângela.
(LM)

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