São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Consenso revisto

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O pai ideológico do Consenso de Washington, conjunto de políticas ditas neoliberais hoje hegemônico na América Latina, prepara sua autocrítica. É o que informa a "newsletter" britânica "Latin American Weekly Report", no seu número mais recente.
Em seminário marcado para o início de setembro, em Washington, John Williamson vai dizer o que jamais advogou, embora com o tempo tenha sido incorporado como regras de ouro do tal Consenso.
Dirá que não defendeu, por exemplo, o corte dos gastos públicos como única forma genuína de restaurar a disciplina fiscal; que jamais cobrou cortes abrangentes de impostos; que jamais se opôs a tributos redistributivos; que nunca pregou a eliminação dos controles de capitais etc.
Curioso o timing da autocrítica. A "newsletter" já havia comentado, em seu número anterior, que deveria ser levado mais a sério o encontro contra o neoliberalismo, promovido recentemente pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional, no México.
Como previsível, o encontro terminou com a denúncia do neoliberalismo que, para a esquerda, "tem levado à destruição das economias nacionais e das pequenas indústrias, gerando desemprego e marginalização".
Parece o velho jargão. Mas a publicação britânica chama a atenção para o fato de que "agências internacionais de empréstimo têm enfatizado que a estabilidade de preços e o ajustamento estrutural são insuficientes".
O FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial, cada vez mais, fazem referência à necessidade de que haja também (e não depois) crescimento econômico e melhor distribuição de renda.
Já Gustavo Franco, o "enfant terrible" do Banco Central, escreve, no número de "Carta Capital" nas bancas, que o encontro do México teve "clara semelhança com um grande congresso de ufologia".
O tempo dirá quem tem razão.

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