São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Isto é um assalto, ou não é?

RICARDO BERZOINI

As justificativas oficiais para toda sorte de ajuda aos banqueiros não resistem à mais simples das análises. Desde o início do Plano Real, não houve segmento melhor tratado.
Faço essa afirmação com a segurança de quem acompanhou todo o processo de deterioração de ativos e de caixa dos bancos Econômico e Nacional, analisou e reclamou atitudes do Banco Central, no sentido da preservação dos interesses dos recursos públicos, dos bancários envolvidos e dos clientes. Denunciamos a criação do imoral Proer. Infelizmente, o governo se elegeu pelo apoio dos banqueiros e está pagando com juros e correção.
No caso das tarifas e do horário bancário, o governo justifica sua generosidade alegando que os efeitos da estabilização indicam necessidade de novas fontes de receita para os bancos. Vejam os balanços dos dois maiores bancos privados: o Itaú lucrou, no primeiro semestre de 1996, mais 48%, se comparado com o mesmo período de 1995, e arrecadou, com receitas de prestação de serviços, mais 106%! A rentabilidade passou de 6,2% para 7,8%, no semestre, enquanto a maior parte das empresas contenta-se com ganhos de 3% a 5% ao ano.
No Bradesco, o lucro cresceu 62%, as receitas de prestação de serviços, 46,5%, e a rentabilidade semestral, de 6,2% para 8,3%. Apesar dessa "farra" de receitas e de lucros, no primeiro semestre de 96 o setor eliminou 39.579 empregos diretos, com grande contribuição dos bancos citados. Para não restringir a análise, cabe a informação da EFC (Engenheiros Financeiros e Consultores) de que as receitas de prestação de serviços saltaram de R$ 2,3 bilhões para R$ 6,5 bilhões, entre 93 e 95, nos 40 maiores bancos.
Os bancos, há mais de cinco anos, vêm promovendo um verdadeiro assalto aos correntistas e usuários, via cobrança de tarifas. A própria Febraban já admitiu que um dos objetivos, além de obter maiores receitas, é excluir setores menos aquinhoados da sua clientela.
Ao contrário, há a necessidade de o poder público coibir os abusos e garantir um sistema financeiro que, sem ser filantrópico, retribua ao menos em parte, por meio da prestação de serviços, a magnífica lucratividade que a sociedade lhe transferiu nos últimos 20 anos.
Por fim, é bom lembrar que o mesmo governo que ataca os bancos públicos, levando o Banco do Brasil ao posto de recordista mundial de prejuízo, e que prepara, nas sombras, a privatização do Banespa para depois das eleições municipais, é quem providencia medidas quase diárias de apoio aos banqueiros privados, via BC e CMN (Conselho Monetário Nacional). Como cantaria Chico Buarque, na pele de "Julinho da Adelaide", cada dia mais atual: "Chame o ladrão, chame o ladrão..."

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