São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Basta saber olhar

SÍLVIO LANCELLOTTI

Já está bem longe a lembrança do bronze do Brasil em Atlanta. Nesta semana, porém, uma polêmica saudabilíssima reacendeu a discussão entre a mera alegria por mais uma medalha e a irritação pela não conquista do ouro que fora jurado e parecia ao alcance da respiração.
Dois bravos colegas, Mário Moreira e Marcos Augusto Gonçalves, o MAG, defenderam teses opostas. Mário recordou, com lógica grega, para mim um raciocínio sofismático, que a Nigéria venceu o jogo que o Brasil perdeu. MAG retrucou, e eu concordo, que o Brasil de fato só perdeu. No mínimo porque ganhava a partida com folgas a um átimo do seu final.
Peço licença para engatar meu vagãozinho em tal comboio. Rememoro: o Brasil gastou entre US$ 3,5 e US$ 5 milhões, quantia ainda não contabilizada nas minúcias, para montar um time imbatível na cabeça do seu arrogante treinador, Mario Zagallo, aquele que jamais analisa o estilo dos oponentes -e ousa acusar Rivaldo de ter negado fogo em Atlanta.
Ora, convenhamos. Rivaldo estraçalhou no Palmeiras porque Djalminha lhe servia de ponto de referência, porque Muller se apresentava como parceiro de tabelas, ou porque Júnior, no flanco esquerdo, não desembestava até a linha de fundo apenas para realizar levantamentos sem destino.
Na seleção, com a sua agilidade fogosa, Juninho não soube reprisar as tarefas de Djalminha no Palmeiras. Bebeto e Ronaldinho jamais produziram os espaços que Muller abria no Verdão. Roberto Carlos agiu invariavelmente como um segundo ponta, esquecendo-se de que Rivaldo existia.
Culpa, claro, do treinador Zagallo, que não soube montar esquema capaz de desfrutar Rivaldo. Pior. Zagallo acabou de arruinar Rivaldo quando colocou no time outro canhoto, o estóico Zé Elias, exatamente na sua zona de trabalho. Futebol é coisa simples. Basta saber olhar.

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