São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Sob o patrocínio de...

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

No começo, ele criou o céu e a terra. Depois, o homem, e esse criou a televisão, que criou a garota-propaganda.
Seus nomes eram tão conhecidos como os produtos que anunciavam. Meire Nogueira, Marlene Morel, Neide Alexandre e muitas outras fizeram a fama divulgando os mais variados produtos de beleza, os mais modernos eletrodomésticos, as mais elegantes lojas de moda, os mais reluzentes automóveis saídos das recém-inauguradas fábricas do ABC -alguns deles encurralados entre as quatro paredes de um estúdio, onde, eventualmente, eram sorteados em promoções concorridíssimas.
Homero Silva, apresentador do "Clube dos Artistas", ao lado de Cacilda Lanuza, premiava depois das garotas-propaganda anunciarem exaustivamente o sorteio, um "novíssimo DKW Caiçara, último tipo", uma espécie de Parati dos anos 60, para o feliz comprador de algum produto que alguma garota em algum momento anunciou.
Aos poucos, as garotas-propaganda foram dando lugar aos mais elaborados filmes comerciais, que tiravam do estático estúdio o produto em promoção, dando maior agilidade e novas possibilidades aos anunciantes.
Edgard, atualmente mais voltado aos acordes do jazz ao lado da cantora Silvinha, era um campeão, o rei do Pinho Sol. O guarda de "A Praça é Nossa" fez furor ao declarar que quem não bebia determinada marca de guaraná era "boko moko", poucos anos depois da bailarina Lyris Castelanni apresentar o bambolê.
Reza a lenda que o primeiro ator de reconhecida fama a fazer comerciais foi Raul Cortez, anunciando salsichas vestido como um príncipe do século 17. Mas, antes dele, Nidia Licia parava seu Renault Dauphine num posto, não para abastecer (pois o pequeno carrinho não possuía o hábito da bebida), mas para pedir uma informação. Quem saía informado era o frentista, sobre as qualidades do automóvel.
Antes dela, Norma Bengell tomou Toddy e Eva Wilma, dizem (mas ninguém confirma), fez a locução para o desodorante Mun.
Miéle, o showman por excelência, ganhou uma pequena fortuna para raspar a barba em um comercial, e, até nos Estados Unidos, a ruiva Lucille Ball anunciou produtos para permanente caseira.
Aos poucos, como se vê, a coisa se inverteu: atores tomaram o lugar das garotas-propaganda.
Mas elas estão vingadas: os modelos e as viúvas tomaram o lugar dos atores.
Mas será que algum deles faria em 35 tomadas o que Marlene Morel fazia ao vivo, de primeira?

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