São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maia vê desastre em campanha de Serra

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Uma possível combinação das vitórias de Celso Pitta (PPB) em São Paulo e de Luiz Paulo Conde (PFL) no Rio, nas eleições municipais deste ano, segundo o prefeito carioca Cesar Maia, 51, vai jogar a emenda constitucional que permite a reeleição do presidente da República numa contradição.
"As vitórias dos candidatos dos prefeitos significam que a população quer a reeleição, mas a vitória de Pitta em São Paulo significa que Paulo Maluf tem condições de impedir a reeleição", disse.
Para Maia, nesse cenário, sem mobilização popular que significasse pressão sobre os parlamentares pela aprovação da emenda da reeleição, a proposta não vai passar no Congresso Nacional.
Maia analisa os "desastres" que, em sua opinião, são os programas e anúncios de televisão dos tucanos José Serra e Sergio Cabral Filho em entrevista à Folha.

Folha - Em que as ascensões de Luiz Paulo Conde e de Celso Pitta se parecem?
Maia - Elas têm, como principal razão, a avaliação positiva das administrações municipais. Outro ponto de analogia é a decisão dos dois prefeitos de se jogar por inteiro na campanha. Em geral, os políticos, principalmente os que pretendem ser candidatos mais à frente, são aconselhados a não se comprometer com o próximo prefeito, para que você não tenha problemas lá na frente. O Conde é um candidato de péssima dicção, que já tem 60 anos, portanto foi o candidato escolhido para governar, não era o melhor candidato para ganhar a eleição. O Maluf se preocupou com o melhor perfil de candidato.
Folha - O sr. concorda com a avaliação de alguns publicitários que afirmam que a ascensão rápida do Conde e do Pitta se deve, em boa parte, aos pequenos anúncios, no meio da programação?
Maia - Concordo, mas vamos ver essas coisas como elas são. Temos maneiras de usar o horário eleitoral. A maneira clássica, usada pelo Sergio Cabral, usada pelo José Serra, é contratar uma excelente agência de publicidade e fazer publicidade na televisão. Nós condenamos isso. Achamos que isso só pode ser feito numa situação francamente favorável, em que você não precisa explicar o que é Bombril. Nós fazemos telejornalismo e radiojornalismo. O publicitário é um instrumento para dar àquele produto uma embalagem melhor.
Folha - O sr. acha que os publicitários erram ao tentar "vender", nas campanhas, o candidato como, por exemplo, um sabonete?
Maia - Claro que sim. O Duda Mendonça é diferente, mas ele faz jornalismo nos programas do Pitta. Acompanho todos. Nós aprendemos com a experiência de outros países. Tenho dois assessores que participaram de todas as eleições importantes que aconteceram no mundo nos últimos quatro anos. Eles vão, acompanham a cobertura de noticiário, discutem com as lideranças sindicais e cientistas políticos, trazem as peças publicitárias. Nosso equipamento teórico tem um livro que, para nós, é muito importante, publicado em julho de 93 nos EUA. É um livro de Samuel Popkins, que é um sociólogo e assessor de candidato presidencial, que faz uma revisão das teorias sobre o voto, sobre eleitor, nos Estados Unidos desde 1940. E aplicamos esses ensinamentos na campanha. Por exemplo: os nossos comerciais tiveram de ter um sentido biográfico do candidato. Mas, em vez de apresentar uma biografia tradicional, o que fizemos foi apresentar uma biografia sumária no horário eleitoral.
Folha - Por que o sr. acha que o Serra caiu tanto?
Maia - Você pode creditar ao desastre que é o programa de televisão do Serra. É uma peça de publicidade. Partem do princípio que o produto é conhecido. Nós economistas nos sentimos muito importantes porque estamos sempre no noticiário. Somos sempre estrelas: os deputados-economistas. Mas o povão não está tão próximo como a gente imagina.
Folha - Mas o que está errado?
Maia - Olha, um programa como aquele "Fábrica de Empregos" é incompreensível. Você está dizendo para a pessoa o seguinte: "Olha, você está desempregado ou vai ficar desempregado, se você fizer um cursinho, é capaz de conseguir um emprego". O Maluf está dizendo, como eu disse aqui: "Você está empregado porque estamos fazendo obras, se pararem as obras, você vai ficar desempregado". É muito mais simples.
Folha - O que está prejudicando o Sergio Cabral Filho?
Maia - O que está derrubando o Sergio Cabral -isto é um conceito do Samuel Popkins- é o seguinte: quando o eleitor vota para vereador ou deputado, age como consumidor; quando vota para presidente, governador ou prefeito de grandes cidades, vota como investidor. Como investidor, ele vota pela cidade, não vota pela família dele. Ao votar pela cidade, sabe que essa é uma função de alta responsabilidade.
Não adianta querer que o Sergio bote uma gravata nos programas para dizer que já é um rapaz amadurecido. Ele não conseguiu passar a idéia de que acumulou experiência para ser prefeito de uma cidade complexa como o Rio. Segundo: um programa eleitoral que é um dos maiores desastres de que tenho notícia.
Folha - Se Conde vencer no Rio, e Pitta, em São Paulo, como fica a emenda que permite a reeleição de presidente?
Maia - Vi uma discussão muito interessante na reunião da executiva do PFL. Vou apenas reproduzir. A eleição dos candidatos dos prefeitos quer dizer que a população brasileira quer a reeleição. Mas a eleição do Pitta, pela importância de São Paulo, significa que o Maluf tem condição de intervir em nível parlamentar e impedir a reeleição. Se não tiver pressão popular, vai ser difícil passar a reeleição, no caso de uma vitória do Pitta.

Texto Anterior: SP poderá ser cobaia do "Fura-Fila"
Próximo Texto: Pefelista do Rio foi simpatizante do PCB
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.