São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Maluf aceitará tese de reeleição de FHC

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Paulo Maluf (PPB), prefeito de São Paulo, não vai se opor em 97 à emenda da reeleição para presidente da República que beneficia o atual ocupante do cargo, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Maluf mudou de posição por achar quase inevitável a aprovação do projeto. Decidiu, então, tirar proveito disso.
Segundo a Folha apurou, é a seguinte a estratégia malufista:
1) Candidato ele próprio a presidente em 98, Maluf é a favor da reeleição. Acha que é o melhor para o país. E que também pode se beneficiar desse instrumento no futuro;
2) Para o prefeito paulistano, qualquer governo que tente aprovar a reeleição para si próprio será acusado de casuísmo. Nesse sentido, FHC estaria lhe prestando um favor. Maluf acha que o governo tucano vai se desgastar para aprovar a reeleição;
3) A aprovação da emenda da reeleição, na visão de Maluf, está longe de garantir ao atual presidente uma recondução automática ao cargo. O prefeito acha que o fator determinante será a situação da economia no período que anteceder a eleição presidencial de 98;
4) Se a economia estiver com um comportamento estupendo em 98, Maluf admite que FHC seria um candidato quase imbatível. Ou, mesmo não havendo reeleição, teria muita chance de vitória alguém apoiado por FHC -a exemplo dos atuais prefeitos de capitais e seus apadrinhados desconhecidos. Só que Maluf já pôs na cabeça que a situação econômica é ruim e continuará assim. Ou seja, para ele, hoje, tanto faz haver ou não haver a reeleição para FHC;
5) Apesar disso, para consumo externo, Maluf continuará com o discurso de sempre. Dirá ser contra a reeleição para os atuais ocupantes de cargos executivos. O que é verdade, pois sem FHC a vida do prefeito seria mais fácil em 98;
6) Quando chegar o momento de votar a emenda, Maluf acirrará o discurso de oposição. Mas dirá para seus aliados que não vai aliciar deputados para votar contra. Em resumo, nos bastidores, vai liberar os seus comandados.
Cenário ideal
Maluf sonha com um outro cenário ideal. Ele deseja que o governo FHC se exponha durante as discussões sobre a reeleição. Isso daria munição ao prefeito para acusar os tucanos de fisiológicos.
Com isso, Maluf deseja inverter uma situação da qual foi protagonista há mais de uma década. Em 85, o prefeito foi candidato à eleição indireta para a Presidência.
Na época, o presidente era escolhido por um colégio eleitoral, no Congresso. Havia apenas dois candidatos. Um do regime militar (Maluf) e outro da maioria da oposição (Tancredo Neves).
Maluf perdeu. Mas ficou com a fama de ter aliciado deputados e senadores em troca de favores. O que se convencionou chamar, no jargão político, de fisiologismo.
"Quando cheguei no Congresso em 85 me lembro que uma pessoa me olhou bem nos olhos e, com raiva, disse: 'Que vergonha'. Eu era a encarnação do mal naquela época", diz o prefeito.
Torcida
Hoje, Maluf afirma nem pensar em reeditar aquele seu desempenho dos anos 80. Mas torce para que os congressistas resistam à emenda da reeleição e forcem FHC a conceder favores.
Assim, o presidente estaria dando o melhor dos mundos para o prefeito paulistano: a reeleição, que Maluf também quer, e a oportunidade de impingir aos tucanos a pecha de fisiológicos.
Por conta desse raciocínio, interessa a Maluf postergar a votação da emenda. Ele supõe que FHC sairá com a imagem arranhada do processo. Deseja esse revés presidencial bem fresco na memória dos eleitores em 98.
Essa é a razão para que o presidente do PPB, o senador Esperidião Amin (SC), viva repetindo que a Convenção Nacional do partido decidiu não discutir o tema neste ano.
"Se quiserem priorizar a emenda constitucional para este ano, aí nós vamos fazer rolo", afirma o senador Amin.
E no ano que vem? Quem responde é o próprio Maluf dando um sinal claro daquilo que só admite reservadamente: "Em 97, sigo a orientação do partido. Não vou influir em nada".
"Resistência passiva"
Espiridião Amin tem uma frase que define com perfeição como será o comportamento do seu partido durante o debate da reeleição no Congresso:
"Faremos uma resistência passiva. É esse o espírito. Não vamos arranjar mais 20 deputados para votar contra. Isso não adianta."
Amin esteve com o presidente da República na semana passada. E com o prefeito paulistano na segunda-feira. Desempenha o papel de principal ponte de contato entre o PPB e o Palácio do Planalto.
O senador avalia ser inevitável o envolvimento do presidente no momento em que a emenda da reeleição estiver em tramitação. "O Fernando Henrique vai ter que entrar e sempre terá o ônus", diz.
E a conclusão de Amin: "Tudo o que cheira a transação deixa uma anátema perante a opinião pública". Esse deve ser o ônus para FHC e o bônus para Maluf.
Sem contar que, se for mesmo aprovada a reeleição, e Maluf também conseguir se eleger presidente em 98, o prefeito entrará no Planalto sem a preocupação de deixar o cargo depois de quatro anos.

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