São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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'Levei chave de braço e fui imobilizada'

PAULA TOLLER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu vinha de São Paulo num vôo procedente de Orlando, e havia duas passagens na sala de desembarque: uma para estrangeiros -com cabine da Polícia Federal- e outra para os brasileiros, vindos de São Paulo e Orlando, além de um outro vôo, vindo também dos EUA.
Não havia fila alguma, e eu andava devagar, com muitas pessoas na minha frente. Eu não tinha nenhuma obrigação de apresentar passaporte ou passar pela alfândega, pois havia embarcado num vôo doméstico.
Passei pelo funcionário devagar. Ele pegou no meu braço, pedindo "documento". Eu olhei para ele e disse: "Eu vim de São Paulo" e fui adiante.
Aí, então, ele agarrou meu braço, me impedindo de seguir em frente e falando grosseiramente que eu tinha de apresentar documento. Eu falei para ele largar meu braço, e ele apertou mais, em forma de pinça, para disfarçar.
Eu reagi, empurrando-o, e ele partiu para cima de mim como um brutamontes. Levei chave de braço, fui imobilizada e carregada sem os pés no chão para uma sala, levei um tapa no olho que me arranhou o rosto, por causa dos óculos escuros.
Dentro da sala, mais dois homens me agarraram e, com extrema violência física e verbal, me algemaram, ferindo meus pulsos.
Mesmo assim, dominada, ainda levei uma rasteira do primeiro policial. Fui levada ao longo do aeroporto, algemada, até a garagem e tive que ir até a delegacia num carro de passeio, sem direito a acompanhante, junto com o policial que me agrediu e mais dois: o que havia sacado uma arma -ameaçando quem tentou entrar na sala do aeroporto- e um outro.
Fui presa, não sem antes ter de assinar um documento dizendo que haviam sido respeitados todos os meus direitos constitucionais*.
Saí sob fiança de R$ 50. Nas dependências da PF no aeroporto, além de agredida, fui xingada de maluca e drogada, viciada em cocaína.
Na delegacia da rua Venezuela, passada uma hora, deixaram entrar meu marido e tiraram as algemas. Mesmo assim, um policial ficou batendo as algemas, passeando na minha frente.
Nesta semana, entrei com uma representação na Justiça por abuso de poder contra o policial Geraldo Roberto Malatesta.
Além disso, quero mover ação contra a União, por danos à minha honra. Também fiz exame de corpo de delito no IML.
Gostaria também de dizer que, ao contrário do que publicaram alguns jornais no dia 26/8, eu não pedi desculpas ao policial, não prestei depoimento, não furei fila de desembarque e não saí da delegacia acompanhada de meus seguranças. Saí com dois advogados e o presidente da gravadora WEA.
Nada teria acontecido se esse sujeito tivesse educadamente me perguntado de onde eu vinha ou pedido meu cartão de embarque.
Várias pessoas passaram direto antes de mim, inclusive o Marco Antônio Alves, que é o segurança do Kid Abelha nos shows.
Ninguém pediu nada, e ele nem segurou seu braço. Agora, se esse procedimento é normal e permitido com as mulheres, e não se pode reagir sob pena de ser espancada, algemada e presa, então esse regulamento está errado e tem de ser modificado.
*Direitos constitucionais: Direito à integridade física e moral; direito de ter a companhia de um familiar; direito de ficar calada e só prestar depoimento em juízo.

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