São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Veneza começa com cara de Oscar

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O drama americano "Sleepers", dirigido por Barry Levinson ("Assédio Sexual"), abriu ontem a 53ª Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza.
"Hors-concours", não disputa o Leão de Ouro. Atira mais alto: o Oscar é o alvo.
A estréia veneziana serve apenas de antecâmara para o lançamento americano em outubro próximo. "Sleepers" (Dorminhocos) tem todo o perfil de drama social que encanta a Academia de Hollywood. Definido por Levinson como uma tragédia americana, trata de amizades de infância, reformatórios cruéis, autoridades despóticas, justiça ainda que tardia.
O ponto de partida é o best seller "autobiográfico" de Lorenzo Carcaterra. "Sleepers" é o apelido de jovens condenados a períodos de reclusão em reformatórios de Nova York, recriados por Carcaterra como o "Wilkinson Home for The Boys".
Seria ele um dos quatro meninos criados nos anos 60 no Hell's Kitchen (Cozinha do Inferno), zona de imigrantes pobres do "Down West Side" de Nova York. Lorenzo, apelidado "Shakes", Michael, John e Tommy crescem tendo por figuras paternas centrais um simpático padre, Bobby (Robert De Niro), e um descontraído mafioso, King Benny (Vittorio Gassman).
Uma brincadeira de turma -roubar um cachorro quente- acaba em morte e sela o destino do quarteto. A passagem deles pelo reformatório surge nas telas como um misto de "Pixote" e "O Expresso da Meia-Noite". Sobrou para Kevin Bacon o papel do guarda nazistóide, torturador e pedófilo.
A saída do inferno marca o salto narrativo para a segunda parte, treze anos mais tarde. Os jovens delinquentes sobrevivem com diferentes sequelas, dois educados para o crime, dois bem encaminhados, um como advogado (Brad Pitt), outro, jornalista (Jason Patric). A vingança catalisa uma última ação comum.
John (Billy Crudup) e Tommy (Ron Eldard) reencontram e fuzilam o carrasco escolar, levando a turma de ontem, incluindo padre Bobby e King Benny, a um mutirão de socorro. É quando Dustin Hoffman entra em cena como um advogado bêbado e decadente.
Carcaterra e Levinson atiram às favas a verossimilhança na parte final. Como sempre nos filmes de Levinson, a tensão dramática dilui-se com o relaxamento do ritmo e tudo parece rodado com a preguiça dos telefilmes.
Nas mãos de um Scorsese, "Sleepers" poderia ser um filme poderoso. Mas Barry Levinson é o típico artesão populista que hoje faz carreira em Hollywood. O Oscar costuma ser sua comenda.

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