São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Equívoco; Correspondência extraviada; Visão preconceituosa; Rodízio; Esbulho

Equívoco
"O grande equívoco da reportagem 'Banco consome 52,3% da dívida do Real' (25/8), de Gustavo Patú, é, sem dúvida, o de considerar que a emissão de LBC Especiais se constitua em aumento da dívida mobiliária federal.
Do ponto de vista técnico, não se pode assim entender por diversos motivos, sendo o principal deles o fato de que a emissão das LBC-E -no total de R$ 29,1 bilhões- não traz impacto monetário, uma vez que, por meio dessa operação, o Banco Central não retira excesso de moeda em circulação, como alega a referida reportagem.
Também há de se observar que esse tipo de papel -utilizado por bancos estaduais para lastrear operações de financiamento no mercado (lastreadas antes por títulos estaduais)- é vendido a termo pelo Banco Central.
Por sinal, o objetivo dessa 'troca' temporária de papéis estaduais por federais foi justamente o de reduzir o custo da rolagem da dívida estadual que, no 'overnight', é superior ao dos títulos federais, dada sua maturidade.
Vale a pena lembrar, nesse sentido, que esse tipo de operação foi utilizado antes, com êxito, no período de fevereiro/91 a julho/93. Quando o diferencial das taxas, estadual e federal, não justificava mais a manutenção do mecanismo, foi então suspensa a 'troca' sem custo algum para o Banco Central ou para o Tesouro Nacional.
Quanto à emissão de títulos para capitalização do Banco do Brasil (R$ 6,4 bilhões), é preciso dizer que parte desses títulos será resgatada pela venda de ações de empresas estatais federais para aquele banco, relativizando, dessa forma, o impacto da emissão no crescimento da dívida mobiliária.
Se realmente as operações de assistência financeira de liquidez levam, em princípio, a um aumento da dívida mobiliária, deve-se ressaltar que elas correspondem a um crédito remunerado do BC junto às instituições financeiras, com garantias reais, não se constituindo, portanto, numa emissão a fundo perdido.
Não se deve esquecer ainda o forte impacto contracionista sobre a dívida mobiliária federal -da ordem de R$ 13,6 bilhões- exercido pela monetização da economia no período pós-Real.
E para que os leitores da Folha não se deixem impressionar por números imprecisos e conceitos tendenciosos, vale aqui lembrar que a dívida mobiliária cresceu, nominalmente, 1.100% nos primeiros seis meses de 1994 e 2.942% no ano de 1993, sem que isso tenha causado sobressaltos na ocasião.
Agora, nos dois primeiros anos do Plano Real, o crescimento da dívida mobiliária é de apenas 109%."
Reynaldo Domingos Ferreira, assessor de imprensa do Banco Central do Brasil (Brasília, DF)

Resposta do jornalista Gustavo Patú - Não há equívoco a ser reparado. A reportagem mostrou as causas do aumento da dívida mobiliária federal total, ou bruta, que saltou de R$ 61,7 bilhões para R$ 154,3 bilhões em dois anos do Plano Real. Nesse crescimento estão incluídos R$ 29,1 bilhões em títulos trocados por papéis estaduais, como explicita a reportagem, que em nenhum momento afirmou ter a operação envolvido retirada de moeda da economia. Também foi deixado claro que o aumento da dívida mobiliária foi compensado, em parte, pela aquisição de outros ativos.

Correspondência extraviada
"Refiro-me ao artigo publicado em 20/8, 'Da decadência dos Correios ao extravio de Vera', com os complementos publicados no artigo de 27/8, assinado pela jornalista Marilene Felinto, onde aquela articulista fala do extravio de uma carta registrada enviada de São Paulo para Angustura (Rondônia) por Vera ao seu noivo Ariquemes.
Os Correios têm por princípio apurar, sempre, qualquer eventual extravio de uma correspondência. Para isso, buscamos obter junto ao remetente os dados relativos à referida correspondência para fazer o seu rastreamento.
Infelizmente, no caso específico da carta da Vera, tão 'bem' explorado pela jornalista Marilene, não foi possível fazer a pesquisa, pois Vera, a principal interessada, se recusou a fornecer aos Correios os dados necessários para esclarecer o suposto extravio.
A recusa em prestar as informações no mínimo nos dá o direito de supor que o endereçamento da carta estava errado, pois, em média, o índice de extravio de objetos registrados nos Correios é de 7,5 unidades em 100 mil."
Fausto Weiler, assessor de imprensa dos Correios (Brasília, DF)

Visão preconceituosa
"Na edição do último domingo, a Folha reproduz uma declaração injuriosa contra mim, feita por uma pessoa desconhecida.
O xingamento público e a própria existência de uma seção de tal gênero dentro do auto-intitulado 'maior jornal do Brasil' revelam uma visão preconceituosa, antiética e antipolítica sobre a atuação feminina e a cultura.
Minha candidatura defende idéias inovadoras na área cultural, atraindo por isso o apoio de várias pessoas que, ao contrário da Folha e da autora do ataque injurioso, sabem a importância da cultura e da política como motores de transformações sociais e econômicas.
Estão comigo, nessa luta, Modesto Carvalhosa, Fábio Magalhães, Tomie Ohtake, Nana Caymmi, o ex-ministro da Cultura da França Jack Lang, Sábato Magaldi, Celso Furtado, Paulo Autran, entre dezenas de outros que seria impossível listar aqui.
Além disso, tenho encontrado junto à população em geral uma receptividade muito mais madura e politizada do que a abordagem reacionária expressada pela Folha.
A Folha prefere ignorar o conteúdo político de minha candidatura. Nunca fui procurada por nenhum repórter para conversar sobre as questões efetivamente relevantes da campanha.
Em vez disso, o jornal tenta reduzir a discussão política, por meio de ataques pessoais, a um joguinho de fofocas que causa vergonha.
A própria existência de uma seção como essa é em si mesma preconceituosa: procura mostrar as mulheres como 'fofoqueiras', 'venenosas' e coisas do gênero.
É contra esse tipo de ignorância e preconceito que minha candidatura se coloca.
Minha eleição significa, também por isso, uma renovação ética, que a Folha aplaude em editoriais, mas não pratica em seu jornalismo."
Lulu Librandi, candidata a vereadora pelo PSDB (São Paulo, SP)

Rodízio
"Peço que a Folha abrace uma campanha para conscientizar as autoridades sobre a importância de adotar um plano de ataque ao cerne do problema poluição/trânsito (em vez de termos somente ações isoladas como o rodízio), de modo que possamos daqui a alguns anos nos orgulharmos de termos resolvido o problema."
Eduardo De Marchi Gherini (São Paulo, SP)

Esbulho
"A seção 'Painel do Leitor' é amiúde esbulhada por cartas-artigos de autoridades e/ou celebridades.
A Folha acha justo isso?"
Edson Luiz Sampel (São Paulo, SP)

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