São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 1996 |
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"Beleza Roubada" declara seu amor à Toscana
MARCELO REZENDE
Em "Beleza Roubada", de Bernardo Bertolucci, há a declaração de amor à luz de um lugar: a Toscana, na Itália. No filme de retorno ao seu país -após as grandes produções, como "O Último Imperador"- Bertolucci escolheu como cenário a terra dos estrangeiros, dos "inglesi" que há séculos ambicionam os campos de Siena e Chianti. Durante o grande período da poesia romântica inglesa, no século 19, Toscana foi o lugar que Byron escolheu para cremar o corpo de seu amigo, e também poeta, Percy Shelley. Depois chegaram outros "literati": Virginia Woolf, Dylan Thomas ou Henry James. Hoje, há o cinema. Além de Bertolucci a Toscana serve aos irmãos Taviani, que preparam a versão de "Afinidades Eletivas", de Goethe. Seus campos receberam ainda a atriz Nicole Kidman em "A Portrait of a Lady", de Jane Campion, e, por fim, a francesa Juliette Binoche, que interpreta um dos personagens de "The English Patient". Lugar do belo e do refúgio voluntário, são nas pequenas vilas e plantações que Bertolucci apresenta seu caso: uma jovem de 19 anos (Liv Tyler) chega a uma comunidade de artistas a fim de descobrir quem é seu verdadeiro pai. Sua outra motivação é a paixão, pois pretende também realizar -fisicamente, ela é uma virgem- o amor por um italiano. Lucy, a jovem inocente do mundo, encontra artistas que caminham para a velhice tentando lidar com suas crises e fracassos. Entra aqui a primeira acusação contra o diretor: sua história seria ridícula em sua simplicidade. Bertolucci não é um escritor, mas um cineasta. E, como consequência, não lida com palavras e sim com imagens. O enredo pode ser condenável. O filme, não. Houve sempre em sua obra a vontade de atacar frontalmente uma "moral burguesa". Um desejo que trazia a reboque a paixão pela "bellezza", que o fazia confundir um discurso marxista com um trabalho de Michelangelo. "Beleza Roubada" faz com que Bertolucci finalmente aceite o que sempre camuflou: a atração vertiginosa pela beleza. Seu trabalho é o de um esteta, de alguém que ama a arte, os traços de uma mulher, dos campos e do sol; e que se encontra acuado pelo "o avanço da vulgaridade". Uma situação que, ao menos no cinema, é incontestável. Filme: Beleza Roubada Produção: Itália e França, 1996 Direção: Bernardo Bertolucci Com: Liv Tyler, Jeremy Irons, Jean Marais Quando: a partir de hoje no Center 1, Iguatemi 1 e circuito Texto Anterior: Jewish Museum expõe o Holocausto Próximo Texto: Bertolucci fala de seu retorno à Itália Índice |
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