São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Aluno revela falhas da 5ª série

BID rediscute conceito de universidade

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) poderá vir a considerar a palavra "universidade" como um mero "entulho semântico", se prevalecerem as idéias do economista brasileiro Claudio de Moura Castro.
O BID -que reúne dinheiro de diversos países- foi um dos principais financiadores do crescimento do ensino superior na América Latina nos últimos 35 anos.
À beira do século 21, Moura Castro -um dos principais formuladores de políticas do banco- defende que "a palavra universidade perdeu completamente seu sentido descritivo e não significa nada".
"O ensino pós-secundário deixou de ser ensino universitário no sentido original da palavra", afirmou Moura Castro em palestra proferida na abertura do 2º Encontro PET promovido pela Unesp em Águas de Lindóia (SP), na semana passada (leia abaixo).
As idéias de Moura Castro também estão contidas no texto "Educação Superior na América Latina e Caribe: Um Artigo Estratégico", que será debatido este semestre na sede do BID, em Washington, EUA, onde ele trabalha.
Quatro tipos de ensino
A "estratégia" à qual o especialista em educação se refere é passar a considerar o ensino superior dividido em quatro funções.
1) Formar elites, que são "as pessoas que pensam melhor, que vão assumir a liderança ou que vão criticar as lideranças".
As instituições que oferecem esse ensino também serão as produtoras de conhecimento, ou seja, terão pesquisa. Modelos: Harvard, Princeton e Yale, nos EUA.
2) Formar profissionais, como dentistas, médicos, advogados, engenheiros. "São áreas onde não dá para operar sem vencer uma linguagem própria, que se adquire em um período longo de aprendizagem específica."
Esse ensino têm "necessidade de professores com experiência profissional, o que colide com a política brasileira de impedir que profissionais sejam professores universitários de primeira grandeza".
Moura Castro argumenta: "Você prefere ser operado por uma enfermeira com experiência prática, ou por uma que fez uma tese sobre a história do bisturi?"
3) Formar técnicos. "É semelhante à profissional, mas trata de áreas que 'subiram o morro"'. São áreas práticas, com linguagem própria, mas que antes era aprendida no nível secundário". Exemplos: contadores, técnicos em eletrônica, fisioterapeutas.
Como o ensino profissional, este deve ter laços estreitos com o mercado de trabalho -"as empresas têm que interferir nesse ensino." Mas é de duração bem mais curta.
4) Formar pessoas com uma educação geral, não essencialmente voltada para uma única profissão. Os exemplos são os cursos denominados nos EUA como "liberal arts" (artes liberais). É a área que exige menos investimento.
Dinossauros
A palestra deixou a platéia atônita -Moura Castro defendeu, ainda, a cobrança de mensalidades em instituições públicas, com sistema de bolsas para quem não pode pagar, e classificou como "dinossauros" os que se opõem a isso.
Para ele, sua proposta não produz uma maior estratificação socieoeconômica, pois esse problema é causado pela "baixa qualidade do ensino de 1º e 2º graus".
A discussão do artigo de Moura Castro deve incluir sugestões do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que já trabalhou para o BID em Washington.

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