São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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"Turco aventureiro" irrita a elite em SP

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 16 de agosto passado, o empresário Ricardo Mansur, 48, causou um misto de euforia e inveja no meio empresarial do país, com a confirmação de que afinal conseguira a peça mais valiosa de seu quebra-cabeças empresarial.
Com a aquisição do Mappin, tradicional rede de magazines de São Paulo, Mansur adicionou a perna que faltava, a do varejo, para dar equilíbrio a seu tripé de negócios, apoiado até então no setor industrial -laticínios (Vigor, Leco e Flor da Nata)- e no financeiro (Banco Antonio de Queiroz e a marca Crefisul).
Seus amigos saudaram mais um golpe vitorioso do espírito empreendedor do empresário de origem libanesa, mas a elite dos negócios torceu o nariz ao ver o "turco aventureiro da 25 de março" aumentar o seu império.
Segundo a avaliação dessa parte dos empresários, Mansur é um predador, que vai, assim como fez anteriormente com a Peixe e a franquia da Pizza Hut, sanear o Mappin para passá-lo adiante com um enorme lucro.
Mesmo indiferente a essa acusação, que, costuma dizer, nos EUA seria um elogio de visão empresarial, Mansur promete surpreender. Ele diz que chegou ao Mappin para ficar e que o investimento na rede é o negócio de sua vida. "É a marca mais importante do varejo no país", afirma.
Ele anuncia duas "revoluções" no Mappin: transformá-lo em um "magazine do povão" e tirá-lo das fronteiras de São Paulo, "nacionalizando" a marca por franquias. A idéia é ter mil franquias em um prazo de três anos.
Conhecido entre seus pares como um empresário que antecipa tendências, para ele o varejo será o melhor negócio no Brasil nos próximos anos na esteira da estabilidade econômica.
Desafios
Mansur chega ao Mappin embalado por sua motivação empresarial: enfrentar desafios e correr riscos na reestruturação de empresas falidas.
Para ficar com o Mappin, uma obsessão de dois anos, Mansur teria desembolsado R$ 25 milhões e assumido uma dívida de R$ 30 milhões. Considerado uma águia no mercado, ele espera provar com o Mappin que é um dos mais hábeis negociadores do empresariado.
Mansur é um exemplo de "self made man". De pai libanês, comerciante da rua 25 de março, reduto de comerciantes árabes no centro de São Paulo, Mansur interrompeu o curso de Direito, aos 20 anos, no final da década de 60, para começar a montar seu império, em parceria com o irmão Carlos Alberto, sócio nos laticínios.
Seu primeiro negócio foi a Papelaria São Bento. O segundo, a Ramenzoni, tradicional fabricante de chapéu de São Paulo, que estava quebrada.
Avesso a entrevistas e a aparições públicas, Mansur não liga para a política, mas é um ardoroso fã do Plano Real. Capitalista nato, seu maior interesse é tocar suas empresas e ganhar muito dinheiro.
Sua diversão é jogar pólo. Considerado um dos melhores do país em sua faixa etária, ele pratica o esporte em Indaiatuba, no clube Helvécia, numa área onde a maioria dos empresários milionários tem casa de campo.
Seu único filho homem, Ricardo, 23, segue o pai nos negócios e no esporte.
Mansur gosta tanto de charutos finos que montou uma tabacaria em São Paulo, a tabacaria Havana, a mais refinada da cidade, e acaba de conquistar para o Brasil a representação da Davidoff, uma das mais conhecidas marcas de charutos do mundo.
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Mesmo procurando levar uma vida discreta, Mansur foi assunto da crônica policial por causa de briga em jogo de pólo.
Nos anos 70, brigou com Abílio Diniz, o todo-poderoso do Pão de Açúcar. Mais de 20 anos depois, agrediu com uma garrafada o irmão mais novo de Abílio, Arnaldo Diniz, numa churrascaria de São Paulo.
Causou polêmica também quando foi acusado de assédio sexual por duas garotas de 14 anos, que se disseram modelos de uma agência de São Paulo.
Por intermédio de seu advogado, Francisco Augusto da Costa Porto, Mansur desmentiu a acusação, atribuindo-a a uma trama "sordidamente urdida por interesses menores".

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