São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Cidade glorifica restaurantes e não dá dignidade à população

JOSÉ LUIZ DEL ROIO

Sou paulistano, nascido na Bela Vista, e vivo na Europa. É natural que fique atento a tudo aquilo que a imprensa estrangeira fala sobre minha cidade. Acho que posso afirmar que a imagem mais conhecida de São Paulo no exterior é a da praça da Sé.
Inúmeras reportagens têm sido feitas por importantes redes televisivas sobre aquele logradouro. Evidentemente elas não estão interessadas no estilo neogótico da catedral nem nos chafarizes do local.
O que os atraem são as crianças abandonadas que ali se encontram. Segue-se um rosário de horrores: cola, crack, violências sexuais, roubos e assassinatos.
O turista que aqui chega tende a vir preparado para mergulhar num verdadeiro inferno, quase se surpreendendo com o fato de não ter sido assaltado 48 horas depois.
Esse clima é alimentado pelos próprios funcionários dos hotéis ou amigos locais que, sem cessar, alertam sobre os perigos.
A pergunta que nos resta é: São Paulo é realmente perigosa para o turista? A resposta poderia ser: depende por onde ele se locomove.
Se, encantado ou horrorizado pelo imenso espaço caótico no qual se desdobra a cidade, resolver andar ao léu e chegar, por exemplo, ao Jardim Ângela (zona sul), terá altas chances de terminar seus dias ali mesmo. Essa é uma das áreas de maior risco do planeta. Segundo as estatísticas de 1995, ali foram cometidos 111,52 assassinatos por 100.000 habitantes.
Mas, se o caso ou a necessidade levar o estrangeiro até o bairro das Perdizes (zona oeste), ele poderá, estatisticamente, sentir-se mais seguro do que em qualquer capital européia, pois o índice de homicídios lá é de 2,65 por 100.000 habitantes. O centro representa a média entre esses bairros extremos.
São Paulo é como uma enciclopédia onde se pode encontrar de tudo e na qual coexistem as situações mais disparatadas. Mas o traço que a qualifica é a desigualdade social, gritante e ofensiva, e a aura de violência que

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