São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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A economia e o PSDB

LUÍS PAULO ROSENBERG

A vitória quase assegurada dos candidatos a prefeito de partidos de oposição a FHC e a estagnação do Real têm induzido vários analistas a descartar qualquer possibilidade da emenda constitucional da reeleição ser aprovada.
Para culminar, a divulgação de uma pesquisa de opinião pública, no final de semana, mostrando que a vasta maioria da população brasileira é contra a reeleição.
É muito cedo, contudo, para darmos como certa a derrota do presidente que só pensa naquilo.
Do lado político, é verdade que a vitória de Maluf em São Paulo viabiliza um pólo à direita de oposição à tese da reeleição. Somado ao de esquerda, constitui massa crítica relevante para obstaculizar o sonho de continuidade do inquilino do Alvorada.
Mas desde quando as decisões parlamentares são tomadas com base nas convicções doutrinárias dos partidos ou na reprodução da vontade popular?
Todos os governadores e prefeitos por elegermos estarão lutando ferozmente pela aprovação da medida. Senadores com filhotes na governança de seus Estados, também. Desde que a caneta presidencial funcione, há um centrão amorfo e fisiológico pronto para ser recrutado pelo melhor soldo.
Mesmo do ponto de vista econômico, o quadro está mais para a eleição do candidato do PSDB do que de qualquer outro partido. Por quê?
Porque mesmo no cenário de fracasso, o Plano Real tem força para eleger quem se legitimar como seu continuador.
Realmente, dentre os críticos ao programa de estabilização há tanta torcida contra que já abundam os que profetizam crise cambial, descontrole inflacionário, reindexação da economia e outros epílogos típicos dos planos anteriores.
Mais uma vez, vão quebrar a cara. O Real não fracassa como os planos anteriores, dada a robustez de sua concepção e os avanços já alcançados: desindexação geral, reservas internacionais abundantes e economia aberta, apesar de sucessivos ministros assumidamente a serviço dos lobbies da indústria.
Se fracassar, o Real combinará um pouco mais de inflação e crescimento medíocre, déficit público estabilizado, sem crise cambial nem explosão de desemprego. É bobagem imaginar que ele possa acabar com as tentativas anteriores, quando a economia brasileira estava em moratória, sem reservas, fechada e artificialmente desindexada.
Imagine o seguinte cenário, para o biênio 97-98: inflação entre 14% e 18%; crescimento de 3% a 4%; saldo comercial negativo de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões e reservas internacionais de US$ 50 bilhões.
Será que a maioria dos brasileiros não se sentirá tentada a dar mais quatro anos a quem avançou tanto em relação ao pré-Real? Quem melhor do que o PSDB para concluir a tarefa já bem adiantada, quando o referencial é o passado de 50% ao mês de inflação?
Mesmo capenga, o Real poderá ser decisivo para ajudar FHC a reeleger-se. Ou, pelo menos, a colocar como favorito algum quadro do PSDB: Tasso Jereissati, se a escolha partidária for por um Collor com juízo; Azeredo, de Minas Gerais, se a opção for mais um molenga habilidoso. Ou até Mário Covas, se o clima estiver para ex-estatizante arrependido.

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