São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996 |
Texto Anterior |
Índice
"U Fabuliô" falseia circo
NELSON DE SÁ
Em fuga do teatrão afrancesado, foi no "barracão do largo Paissandu", de Piolim, que os modernistas Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Antônio de Alcântara Machado buscaram a saída para um "teatro antropofágico". Agora como então, porém, o resultado é quase sempre frustrante. Ou pior, artificial. Os Parlapatões, que fizeram domingo a última apresentação da peça "U Fabuliô", no afrancesado Festival de Artes Cênicas, são possivelmente o melhor exemplo recente. A qualidade da companhia é inquestionável. Mas o circo, como acontecia e ainda acontece, não traz verdade em cena e o que se vê, no muito das vezes, é populista, não popular. O sarcasmo dos Parlapatões lembra por vezes o próprio Oswald de Andrade. Daí para a infantilidade da interpretação de palhaços e para as canções de ambição popular a queda é grande. Oswald de Andrade, quando escreveu "O Rei da Vela" e "A Morta", já havia deixado para trás a ilusão com palhaços de circo. No caso de "U Fabuliô", que o programa da peça detalha ser "uma série de 'fabliaux', gênero de contos licenciosos franceses da Idade Média", o que menos interessa é a empostação popular/populista, formal, fria. O que envolve e detona as gargalhadas é o humor crítico e a improvisação. Não há cena melhor do que a da dupla Hugo Possolo e Alexandre Roit, improvisando como o Gordo e o Magro, ou Abott e Costello, ou Oscarito e Grande Otelo. Que não eram palhaços de circo. Texto Anterior: Coates leva William Blake para o século 21 Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |